19 de mai. de 2011

Discutam, mas não deixem que seus alunos saibam

Na semana que passou, alguns jornais bem conhecidos do grande público deram destaque à seguinte manchete: “Livro aprovado pelo MEC ensina português errado”. A pauta foi tão importante que mereceu um dos sempre (in)felizes comentários do jornalista Alexandre Garcia. “Se fosse apenas uma questão linguística, tudo bem, mas faz parte do currículo de quase meio milhão de alunos. E é abonado pelo Ministério da Educação. Na moda do politicamente correto, defende-se o endosso a falar errado para evitar o preconceito linguístico” – disse.
Com esse comentário ele demonstra não desconhecer que, faz muito tempo, o meio acadêmico debate a língua portuguesa e suas variantes, cogitando a possibilidade de transformar certas características da linguagem oral em regras da norma padrão escrita. No entanto, Alexandre minimiza o debate afirmando que é inadmissível que tais questões cheguem aos alunos.
Entretanto, o que eu vejo no ensino das ciências humanas é um enorme abismo entre o que é discutido no meio universitário e o que se passa para os alunos dos níveis médio e fundamental. E essa se torna mais tarde uma das principais causas pela dificuldade que os egressos de escolas públicas enfrentam ao cursar o ensino superior.
Se a discussão sobre os diversos usos da gramática é real e, mais que isso, antiga, não há nada demais em querer colocá-la também para os estudantes e professores dos ciclos básicos de ensino. Essa é uma forma de aproximar os discursos para evitar estranhamentos futuros por parte dos alunos.
Procurei pelo polêmico livro, e a meu ver não há nada de tão grave no que ele fala. Talvez as autoras tenham se equivocado quanto à forma de tratar do assunto. O modo como o debate colocado pode causar impactos não desejáveis nos estudantes. Essa é outra questão que aqui não me cabe discutir, mas que teria dado pautas e comentários muito mais felizes aos telejornais.

Para saber mais sobre o assunto, leia também:
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/nao+somos+irresponsaveis+diz+autora+de+livro+com+nos+pega/n1596948804100.html

2 interações:

Johnatan Reis disse...

Olá Jéssica.
Gostei das colocações e concordo com a incoveniência do referido JORNALISTA.
Falta, infelizmente, apuração. Prefiro acreditar nisso.


Aguardo mais publicações!

Abraços
Johanatan Reis

Luana Luizy disse...

bem, a língua é instrumento de dominação, corpo vivo e sempre passa por modificações culturais, até sociais, diria.Se isso for considerado o próximo passo será também tomar como certo a língua usada na internet, que convenhamos, é terra sem lei, onde todos falam errado, de maneira mais simplificada e rápida.Eu, como uma saudosista, não concordo com esse livro do Mec, acho que é importante aprender o português correto e facilitar o acesso a população mais carente.Defender a língua popular e deixar de lado a norma culta não é democratizar quem sofre preconceito linguístico.
É ignorar um passado letrado do Brasil. O que diria sobre isso Machado de Assis,Drummond e outros tantos cânones da literatura?

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