26 de mai. de 2015

Atrás da tela de um computador: quem somos?

Por Ana Cláudia Gonçalves 


Homem é acusado de pedofilia por tirar selfie perto de crianças e, logo depois de confirmado o engano, acusadora é perseguida nas redes sociais.
               


                Vivemos hoje o que se pode chamar da era da autopromoção. Por de trás das telas de nossos computadores achamos que estamos completamente seguros e isso é extremamente perigoso. Temos essa impressão errada de que agora podemos falar tudo que nos vier a cabeça. Não nos preocupamos com as consequências de nossas palavras, pois não podemos ver a reação do outro. Tornamo-nos repórteres de nós mesmos, fazendo matérias e fotos constantemente da nossa imagem como se fossemos celebridades da maior importância e distribuímos xingamentos e discursos de ódio a quem quiser ouvir.
FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

O caso ocorrido na Austrália semana passada exemplifica bem isso. Um homem que andava pelo shopping de Melbourne, na Austrália, passou por um cartaz em uma loja de brinquedos que comemorava o conhecido Dia do Star Wars, 4 de maio. Por ser fã da série, assim como seus filhos, o homem decidiu tirar uma famosa selfie com o pôster para mandar para seus filhos. Pediu, então, licença as crianças que se encontravam ali, tirou a foto e saiu. Uma atitude bem normal, nada de extraordinário.

           A mãe de uma das crianças que estava próxima ao local, contudo, viu a cena e a interpretou como um ato de pedofilia do homem, assumindo que ele tirava uma foto das crianças e não do cartaz. A mulher fotografou o homem no local e postou em seu perfil no facebook chamando-o de creep, expressão que denota pessoa esquisita e, geralmente, de mau caráter. Logo a imagem se tornou viral, com mais de 20 mil compartilhamentos.


A foto tirada pela mãe. FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK


O homem apenas se deu conta do que estava ocorrendo quando recebeu ligações de parentes pedindo para tomar cuidado ao sair do trabalho, pois ele já havia recebido diversas ameaças via redes sociais. Desconcertado, o homem resolveu recorrer a imprensa para contar seu lado da história e tentar recuperar o pouco de sua imagem que tinha restado. Imediatamente, a internet mudou de lado.
A mulher, que antes era acusadora e ao mesmo tempo vítima, passou a ser vista como inconsequente e agora era taxada de caluniadora.  Recebeu diversas ameaças, até mesmo de morte pela internet. Desculpou-se e lamentou todo o transtorno causado ao homem e sua família, mas isso não retratou sua imagem. Agora é a mulher e seus filhos que são intimidados diariamente por causa de um mal entendido tão simplório.
A inversão das situações tão rapidamente e o nível que atingiram apenas revelam o ponto absurdo a que chegamos. A internet passou a ser uma máscara para que se possa falar abertamente impropérios e ofensas a todos sem sofrer qualquer consequência. Hoje, as redes sociais se tornaram locais extremamente propícios para a disseminação do racismo, do machismo, da homofobia, do preconceito e do ódio em geral. Não há mais a preocupação com o fato de que existem seres humanos do outro lado da tela.



23 de mai. de 2015

Entre abelhas: a diferença entre ver e enxergar

Por Vivi Morais


Fazia tempo que um filme não me fazia pensar tanto. Normalmente, existem aqueles filmes que você vai ver sabendo que carrega uma mensagem mas “Entre abelhas” é quase uma pegadinha, se tenho a permissão de definir assim. Você entra na sala de cinema esperando algo, ou melhor, não esperando coisa alguma e acaba recebendo um clarão na cara que das duas uma: ou vai te estressar e te fazer achar o filme ruim ou vai clarear sua visão de vez.

O filme conta a história de Bruno (Fábio Porchat), recém separado que tem dificuldade em aceitar essa ruptura em sua vida. Enquanto seu melhor amigo Davi (Marcos Veras) tenta reanimar o cara com ações e palavras, no mínimo machistas, Bruno ainda se vê procurando alguma forma de reverter sua separação. E então, do nada, as pessoas começam a desaparecer. Na verdade, Bruno só não consegue mais enxergá-las.
O resto da história vale a ida ao cinema para ser contada por si só mas a reflexão extrapola os limites da tela.




Já pensou quem vai ser a última pessoa lembrada por você antes de morrer? Qual foi a última vez que você perguntou para alguém da sua família se estava tudo bem com interesse na resposta

Na correria da vida e dos nossos próprios problemas, o conjunto de pessoas que realmente são enxergadas por nós são pouquíssimas. Às vezes a gente não enxerga ninguém.
Os casos de pessoas que se suicidam e os conhecidos dizem "Mas ele(a) estava tão normal." demonstram bem isso. Será mesmo que alguém pode chegar ao ponto de se suicidar sem antes ter demonstrado nenhum sinal estranho? Ou isso é porque não havia ninguém que olhasse de verdade para os seus sinais?





Infelizmente, existe também uma falha no percurso que permite que, mesmo que você veja a outra pessoa, não quer dizer que essa relação vai ser mútua. Já te cumprimentaram e você não lembrou de onde conhecia o indivíduo? Nem depois dele tentar te fazer lembrar? É como se a pessoa não tivesse feito parte daquele cenário na sua vida. 

Por isso também, nos agarramos tantos em relacionamentos afetivos monogâmicos que, teoricamente, dão uma estabilidade. Ao mesmo tempo que há a "certeza" de que a pessoa vai estar lá contigo sempre te colocando em primeiro plano, enxergar só uma pessoa e colocá-la como prioridade é mais prático. 
Relacionamentos com esse tipo de base costumam caminhar por rumos abusivos e, quando/se terminados, causam um sofrimento que vai além da perda usual. Dá um medo do esquecimento. Medo de desaparecer.

"Entre abelhas" desperta em cada pessoa um sentimento diferente por deixar em aberto uma questão tão real de um jeito surreal. Deixar-se refletir é necessário mas se render às possibilidades pode ser enlouquecedor. Filme super indicado pra quem não tem medo de repensar as próprias escolhas.



19 de mai. de 2015

Internet.org: A neutralidade ou o acesso universal?

De Gabriel Shinohara

O internet.org é um projeto sem fins lucrativos do Facebook em conjunto com outras empresas de tecnologia, que procura prover acesso à internet aos dois terços da população mundial que estão desconectadas, principalmente em países da África, Ásia e América Latina.

O método de inclusão digital envolve parcerias com provedores locais que oferecem seus serviços de forma gratuita, contando com a possibilidade de os usuários buscarem uma assinatura paga em um futuro próximo.

Apesar de aparentemente altruísta e inclusivo, a iniciativa levantou discussões e críticas quanto a seus reais objetivos, já que a pequena capacidade de internet dos provedores apenas garante acesso a sites pré-selecionados, como a Wikipédia, sites de notícia, serviços de saúde e ao Facebook.

Ativistas indianos (país em que o programa já está em funcionamento) quando perguntados pela Organização de Regulação de Telecomunicações local, sobre a questão da neutralidade da rede, se mostraram preocupados. Em um artigo publicado no site hidustantimes.com, o grupo chamado “savetheinternet.in coalition” afirmou que “a internet não é o Facebook” defendendo o direito dos usuários à um espaço livre na rede.

Mesmo defendendo veemente o programa em artigo no mesmo Hisdustan Times, aonde afirmava que a “neutralidade da rede não entra em conflito com o trabalho de conseguir que mais pessoas se conectem”, um dos maiores conglomerados de mídia indiano, a Times Group, se retirou do projeto junto com algumas outras grandes empresas locais.

Um detalhe que não deve ser esquecido: serviços gratuitos de internet normalmente lucram com a venda de espaços publicitários ou com propagandas direcionadas. Para o Facebook, quanto mais usuários, mais dados disponíveis e mais lucro.

Brasil

Em encontro com a presidente Dilma Rousseff na última Cúpula das Américas, no Panamá, Mark Zuckerberg anunciou uma parceria com o governo brasileiro, que pretende levar o projeto internet.org para as regiões que não possuem acesso à rede.

— Estamos aqui para anunciar uma parceria entre o Facebook e o governo brasileiro, no sentido de assegurar que as tecnologias que garantem acesso à internet e aos serviços de internet, educação, saúde, e todos os produtos que a internet pode tornar disponíveis na rede possam ser acessados do Brasil — disse Dilma.

Mesmo após a suada aprovação do Marco Civil da Internet, que garante a neutralidade da rede, a proteção aos dados pessoais e a privacidade, a iniciativa conseguiu apoio governamental. Não é uma decisão fácil, pois o projeto coloca em conflito dois artigos da lei Nº12.965 (do Marco Civil). O artigo 3º que lista os princípios do uso da internet no Brasil, ilustrado abaixo:

Art. 3o  A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.

E o artigo 4º, que diz que a internet no Brasil tem como objetivo a promoção do direito de acesso à internet a todos.

Art. 4o A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção:
I - do direito de acesso à internet a todos;
II - do acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos públicos;
III - da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso; e
IV - da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados.

Esses dois artigos são exemplos práticos do discurso de Mark Zuckerberg e dos ativistas indianos. Enquanto o primeiro defende o acesso universal, mesmo sem os princípios de neutralidade, dizendo: “é melhor ter algum acesso à internet do que nenhum”, o outro afirma que a neutralidade da rede é imprescindível e considera básico o direito à experiência de uma internet livre para os indianos, assim como o CEO do Facebook teve.

Sem dúvida a implantação desse projeto violaria o Marco Civil da Internet, mesmo o reforçando simultaneamente. Grupos como o Proteste e o coletivo Intervozes já manifestaram suas opiniões contrárias ao projeto, afirmando que a neutralidade da rede e a proteção aos dados pessoais entrariam em risco com a sua implantação.

O Comitê Gestor de Internet no Brasil (órgão que propõe normas e procedimentos relativos a internet) já questionou o projeto quanto a suas intenções e espera o anúncio oficial, em Junho, para manifestar sua opinião.

15 de mai. de 2015

O meio é a mensagem

    Por Aghata Gontijo
    
    Na terça-feira dessa semana uma jovem morreu ao subir acompanhada de uma amiga no topo de um trem. Anna tinha 18 anos e era romena. A garota faleceu, segundo o jornal Mirror, pois ao se deitar sobre o transporte sua perna entrou em contato com um fio de energia. O choque de 27 mil volts queimou metade de seu corpo e a jovem não resistiu.
    A tragédia tomou um espaço tímido entre algumas matérias curiosas pelo fato de Anna ter feito isso em função de conseguir uma selfie.
    Definida pelo próprio Mirror como “selfie-obsessed teenage girl” (adolescente obcecada por selfies) Anna me fez pensar - confesso que não só por mim, valeu sos  - sobre a matéria além da tragédia. Obviamente essa morte não foi parar em uma página com direito a manchete e tudo mais unicamente por ser uma tragédia.
    O jogo está em uma palavra, e sua importância real bem longe de Anna, ou da sua amiga ou do trem.
    O fato de ter tentando documentar uma ação perigosa para, segundo sua amiga registrar uma “selfie-definitiva” o que quer que isso queira dizer -  pois eu me recuso a reconhecer o caráter mórbido dessa denominação - foi a queda e de certa forma a ascensão de Anna.
    Permita-me esclarecer para que eu mesma não me torne demasiadamente macabra. Subir em um trem com uma amiga e acabar morta por uma fatalidade provável, levando em conta o risco da ação, não teria grande probabilidade - e isso eu digo embasada em minhas aulas sobre valor-notícia e outros miúdos jornalísticos - de aparecer na seção Tecnologias e Games do G1, já que provavelmente o acontecimento nem seria publicado porque a cena em si não é noticia. Duas adolescentes colocam sua vida em risco. Se eu adicionasse até mesmo que ambas o fizeram para mostrar o feito aos amigos, adivinhem: Ainda não.
    Mas a palavra selfie é uma palavra chave para o momento. Ela é o momento.

    Quando as pessoas oferecem seu arroba antes mesmo de oferecer o próprio nome, e lotam uma rede social especializada em fotos de si mesmas, o mundo parece se dividir em idolatria e demonização. Quase como com os profetas, as selfies têm seus fiéis seguidores e seus perseguidores. É uma entidade moderna, com nome, espaço próprio e um valor notícia maior do que o de muitas celebridades por aí, até mesmo que o da famigerada morte.

13 de mai. de 2015

O que está acontecendo no Mediterrâneo?


Desde o início do ano de 2015, mais de 1.500 pessoas morreram nas águas do Mediterrâneo. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirma que o número de mortos no primeiro trimestre de 2015 é 30 vezes maior que o do mesmo período de 2014. Segundo Adrian Edwards, o porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), apenas no mês de abril, foram 1.300 mortos no Mediterrâneo, um recorde trágico.

Notícias relatando naufrágios e mortes no Mediterrâneo já se tornaram comuns. A situação atinge níveis alarmantes, e o número de imigrantes ilegais cresce exponencialmente. Até abril, mais de 57.000 imigrantes chegaram à Europa de forma ilegal, - quase três vezes mais que os 22.500 do primeiro trimestre de 2014 - segundo dados da agência europeia de controle de fronteiras externas (Frontex). Desse número, 10.200 chegaram pelo Mediterrâneo Central - principalmente, a Itália.

Para entender a situação, algumas perguntas devem ser respondidas.

Primeiro: quem são os imigrantes e de onde vêm?

A primeira coisa a pautar, - frequentemente esquecida pelo uso do termo "imigrante" que desumaniza pessoas - é que esses indivíduos possuem histórias pessoais que os levaram a partir em busca de melhores condições de vida.

A Síria é o país de origem mais comum entre esses imigrantes. Com um conflito que já dura quatro anos e que já deixou mais de 200 mil mortos, o país apresenta um deslocamento humano sem precedentes. O segundo país do qual mais pessoas partem em direção à Europa é a Eritreia, um país do nordeste africano cuja situação econômica e política permanece extremamente inquietante para o contexto internacional, além das frequentes violações de direitos humanos. Além desses, países como Afeganistão, Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Líbia, e vários outros, também figuram na lista dos países de origem.

Segundo: como se dá a travessia?

As pessoas que desejam migrar ilegalmente para a Europa procuram os traficantes de pessoas para fazerem a travessia do mar Mediterrâneo. O principal ponto de saída é a Líbia, que desde os anos 1980 atrai imigrantes de toda a África, em busca de melhores condições econômicas.

O tráfico de pessoas se tornou extremamente lucrativo. Giampaolo Muschemi, coautor do livro Confessions of a People Smuggler, estima que o tráfico no Mediterrâneo gere entre 300 milhões e 600 milhões de euros por ano. As autoridades líbias não conseguem lidar com o grande número de barcos que saem da costa, raramente parando traficantes. Assim, os barcos vão e voltam livremente, levando cada vez mais imigrantes para as costas europeias.

Terceiro: o que acontece depois da chegada em solo europeu?

A política de asilo da União Europeia foi algo difícil a se harmonizar, considerando que são 28 membros, cada um com sistema próprio. De acordo com o Regulamento de Dublin, a responsabilidade sobre o pedido de asilo recai principalmente sobre o estado-membro que "recebeu" o requerente, ou seja, o primeiro país em que a pessoa "pisou" ao chegar na Europa. Essa regra causa controvérsia, principalmente por reclamações por parte de países como a Grécia, que reclamam que são inundados por pedidos, devido ao fato de eles terem sido o primeiro país europeu em que o imigrante entrou.

O imigrante deve provar que está fugindo de perseguição e que poderia enfrentar perigo ou morte caso voltassem ao seu país de origem. A expulsão em massa não é permitida pelo regulamento da UE. O requerente de asilo tem direito a ser alimentado, receber primeiros socorros e cuidados em um centro de acolhimento.

Segundo a Agence France Presse (AFP), a UE concedeu asilo a 185 mil pessoas em 2014. Desse número, 70.000 são sírios. Esse número, claramente, não é suficiente para lidar com a totalidade do problema. Considerando o grande número de imigrantes que chegam semanalmente ao continente.

Quarto: e as autoridades?

Líderes políticos, em muitos casos, custavam a fornecer mais meios para a melhora da situação afirmando que, assim, estimulariam os traficantes e imigrantes. Claro que não lhes ocorreu pensar sobre as vidas que seriam salvas. No entanto, com o número de mortes crescendo, e as tragédias mais frequentes, as pressões não tardaram a chegar.

Zeid Ra'ad Al Husein, alto comissário da ONU para os direitos humanos, acusa a UE de adotar políticas cínicas em relação à imigração. Zeid afirma estar horrorizado, mas não surpreso com as tragédias. "Estes mortos e as centenas que os precederam nos últimos meses eram previsíveis". O alto comissário afirma, ainda, que as mortes são resultado de um fracasso de governança e uma "imensa falta de compaixão".

O secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon afirmou que "o Mediterrâneo se transforma rapidamente em um mar de sofrimento para milhares de imigrantes". O papa Francisco apelou a comunidade internacional a "agir com decisão e rapidez".

Com a pressão sofrida, a União Europeia convocou uma cúpula de chefes de Estado e de Governo para deliberar sobre o assunto.

Entre as medidas adotadas, está a ampliação do orçamento da Operação Tritão, o programa de proteção das fronteiras da UE. A operação Tritão, por si só, já foi alvo de críticas por vir substituir a operação Mare Nostrum, que tinha um escopo mais abrangente no que tange buscas e salvamento. A ampliação do orçamento da operação Tritão é de três milhões de euros por mês para nove milhões de euros.

Outras medidas foram:

  • permissão para destruir barcos dos traficantes de pessoas;
  • processamento dos pedidos de asilo em até dois meses após eles terem sido efetuados;
  • coleta de digitais e cadastramento de todos os imigrantes;
  • um programa voluntário de realocamento de imigrantes;
  • oferta de ajuda para retorno aos países de origem;
  • presença de oficiais de imigração em países-chave;
Além dessas medidas, a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, defendeu uma ação militar contra o tráfico de seres humanos pelo Meditarrâneo, e para tanto, busca aprovação no conselho de segurança da ONU.


8 de mai. de 2015

Se você conseguiu ler isso, agradeça um professor (ou tire uma 'selfie')



Por Carolina Nascimento

                Na moderna época tecnológica, de rápidas e imprevisíveis mudanças, quem posta a selfie - ou autorretrato - primeiro é rei. Acordou? Selfie. Está fazendo um solzão? Selfie. Vai comer arroz no almoço? Selfie. Foi ao banheiro? Selfie. A vó ficou doente? Selfie. O partido político a que me oponho está na TV? Vídeo de selfie batendo panela bem altão. O professor foi espancado, atacado com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha? Self... Espera, aí não.
                Por mais arbitrário que isso possa parecer, não é. Da mesma forma que a grande mídia em seu oligopólio seleciona e hierarquiza quais e como os acontecimentos serão divulgados, a massa consumidora de tal entretenimento é guiada para o mesmo caminho em total leniência, quase que inconscientemente.
            Para quem já se esqueceu (como disse, estamos na época de efemeridades), no dia 29/04/2015, em ato contra o projeto do governo estadual para mudar a forma de custear a ParanaPrevidencia, mais de 200 professores e manifestantes ficaram feridos após ataque com incessantes bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha da polícia militar. Mas nenhum “pau-de-selfie” foi esticado para tirar uma foto com o corpo ferido do professor deitado no asfalto quente.
                Por outro lado, no dia 05/05/2015, o evento “panelaço” contagiou as redes e a grande mídia. Então qual é o mecanismo que explica a veiculação em rede nacional e em horário nobre de vídeos amadores do som estridente de algumas panelas do alto de aquecidos lares e o abafamento do massacre vivenciado pelos professores da rede de ensino público do Paraná?        
                O esforço de tal reflexão me faz conjeturar hipóteses com base em três recentes matérias: [1] o lançamento do mais novo aplicativo iPanelaço, em que o manifestante pode escolher entre 6 diferentes sons de panela e assim não precisa amaçar a caçarola. [2] a iniciativa da revista Veja de criar o seu próprio panelaço virtual; e [3] a empresária paulista lançando sua linha de camisetas pró-impeachment. Bem, continuemos refletindo enquanto esperamos o próximo aplicativo “iProfessor” ser lançado.                                                                 

[3] http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2015/05/1624649-empresaria-que-ficou-nua-em-protesto-lanca-linha-de-camisetas-pro-impeachment.shtml

1 de mai. de 2015

Precisamos falar sobre a Nova Lei de Mídia Democrática

Por Ana Laura Corrêa

Na semana em que foram "descomemorados" os cinquenta anos da Rede Globo, precisamos falar sobre a nova Lei de Mídia Democrática, assunto proibido para a grande mídia, se quisermos mudar a comunicação no país 
   




Quando o assunto é uma nova lei para a regulação da mídia no país, os grandes veículos de comunicação já apontam que se trata de uma tentativa de censura. No entanto, não se trata de censura, mas de trazer pluralidade e diversidade aos meios de comunicação.
No Brasil, as leis que regem o âmbito das comunicações estão no Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962. Nesses mais de 50 anos, o que se verifica é um monopólio por parte de algumas poucas empresas - apenas seis são responsáveis por mais da metade dos jornais impressos em todo o país, por exemplo. Desde 1962, o que se vê é o controle dos meios de comunicação por alguns políticos e famílias (família Marinho - Globo; família Abravanel - SBT; família Saad - Bandeirantes). A mídia brasileira representa atualmente poucas vozes. Para garantir a liberdade de expressão, a lei precisa ser alterada.
Por isso, surgiu a proposta de uma nova Lei de Mídia Democrática (disponível para download aqui). A lei, de iniciativa popular, tem 33 artigos. O artigo 5, por exemplo, traz que deve existir uma complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal. Ou seja, será reduzida a soberania de poucas empresas privadas que é verificada hoje e ampliada a participação popular na mídia pelas empresas públicas.
O artigo 14, por sua vez, estabelece que um mesmo grupo econômico não pode ser dono de mais do que cinco emissoras. Já o de número 28 traz que os meios de comunicação devem garantir a acessibilidade de pessoas com deficiência visual ou auditiva, por meio dos recursos de audiodescrição, legenda oculta e interpretação em libras.
Vale lembrar que países como Alemanha, Espanha, Inglaterra e França já regularam seus sistemas de mídia. Chegou a vez do Brasil. Como o projeto de lei é uma iniciativa popular, precisa da assinatura de 1% do eleitorado brasileiro (cerca de 1,4 milhão de pessoas) para ser levado ao Congresso. Você pode contribuir assinando aqui.