16 de mar. de 2006

Briga de charges: liberdade X ofensa

por Diogo Alcântara

Mal começou o século XXI e já vemos algumas peculiaridades, algumas diferenças nítidas com relação ao recém-findado século XX. No âmbito dos conflitos internacionais, podemos dizer que o terrorismo veio substituir o conceito de guerra total (onde tudo no Estado é voltado para a guerra) que foi tão marcante nas décadas anteriores. Por diversas razões, muitos grupos terroristas foram formados nos países muçulmanos e estes grupos, principalmente a Al-Qaeda, ganharam notoriedade, especialmente após os ataques do dia 11 de setembro de 2001.

A reação ocidental foi a postura de intolerância para com os povos muçulmanos. A onda de linchamentos na Austrália é um exemplo. Este tipo de violência é condenável por todos. O problema surge quando ações de intolerância estão aliadas e camufladas por trás de direitos humanos básicos, como a liberdade de expressão. Este é o cerne da polêmica acerca das charges publicadas por um jornal dinamarquês.

O periódico alega que tem o direito de se expressar e muitos outros o apoiaram. No entanto, devemos lembrar que a impre nsa não tem o direito de ofender as minorias nem as religiões. As charges que despertaram a ira de muitos de religião islâmica, além de ofensivas, reforçam o estereótipo de que o povo desta religião seja terrorista de modo geral.

Em contrapartida, não devemos fechar os olhos para os abusos cometidos pelo outro lado. É de se esperar que seguidores de uma determinada religião fiquem indignados em ver um de seus maiores ícones retratado de forma pejorativa. Contudo, isto não lhes dá o direito de ofender usando os meios de comunicação, como está acontecendo no Irã. Neste país um jornal de tendência direitista chamado Hamshahri lançou um concurso de charges para satirizar o holocausto. É lamentável que um representante de uma nação apóie este tipo de atitude, que foi, no mínimo, infantil. Não é desta forma que os problemas, especialmente os internacionais, são resolvidos. E um chefe de Estado deveria mais do que ninguém saber disto. Como exigir respeito no meio internacional agindo desta forma?

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