Ao assumir a seleção brasileira em 2006, após o fracasso da Copa na Alemanha, Dunga teve uma difícil tarefa pela frente: mudar a filosofia da nossa equipe, e reconstruir a imagem de uma seleção que estava desacreditada em seu país.
O início foi complicado, e Dunga se tornou o novo técnico do Brasil sob o signo da desconfiança. Muitos não entenderam a decisão do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de colocar à frente da nossa seleção um técnico totalmente inexperiente. Porém, conforme o tempo foi passando, Dunga foi minando a resistência ao seu trabalho com vitórias e títulos com a seleção.
Seu primeiro grande triunfo com o Brasil foi a conquista da Copa América sobre o nosso maior rival, a Argentina. Naquele momento, Dunga já começava a se relacionar de maneira mais ríspida com a imprensa. As críticas ao seu trabalho perderam força, já que ele havia vencido a única competição disputada até então. Porém bastaram alguns tropeços nas eliminatórias sul-americanas para que as críticas viessem novamente.
Aí então o comandante brasileiro engrossou o tom com a imprensa, e partiu para o ataque como forma de defesa diante das seguidas críticas ao seu trabalho como técnico. Entrevistas coletivas se tornaram mais rígidas, ao mesmo tempo em que eram cada vez menos freqüentes. A cada pergunta que desagradava ao técnico, uma resposta grossa e mal educada logo surgia por parte da comissão técnica.
Com o fim das eliminatórias, e a classificação do Brasil em primeiro lugar, Dunga começou a questionar os próprios jornalistas sobre o que havia de errado com a seleção, já que o Brasil havia vencido a Copa América, Copa das Confederações e terminou como primeiro das eliminatórias. Com estas provocações, sua relação se tornou ainda mais difícil com a imprensa.
Mas esta relação ainda iria se agravar muito. Um ponto crítico da gestão de Dunga como treinador ocorreu semanas antes do início da Copa, ao anunciar os 23 convocados para a disputa do mundial. Insistindo em se manter firme em sua convicção, Dunga deixou de fora da lista jogadores como ‘Paulo Henrique’ e ‘Neymar’, dois jovens que vinham jogando muito bem no time do Santos. Na entrevista coletiva daquele dia, Dunga foi questionado pelo jornalista Milton Neves, do grupo Bandeirantes, se não tinha medo de ficar marcado na história como o treinador que deixou fora da Copa dois talentos como os meninos do Santos. Ele então respondeu de modo irônico e deselegante que o referido jornalista era um ótimo publicitário, que fazia muita propaganda em seus programas, mas que pouco entendia de futebol.
Com atitudes e respostas como esta, Dunga viajou com o seu grupo para a África do Sul em busca do hexacampeonato. Em território africano, os jornalistas que cobriam a seleção brasileira foram totalmente impedidos de realizar o seu trabalho. Dunga fechou os treinos da seleção, e só concedia entrevista quando era obrigado a falar pela FIFA, organizadora do evento. Ao contrário do que ocorria em 2006, Dunga proibiu a TV Globo de ter privilégios dentro da seleção, o que irritou demais os donos da empresa. Prova disto, é que constantemente ele era criticado pela referida emissora pela forma que conduzia a seleção. Sem ter o que exibir ou falar, as emissoras tiveram que começar a improvisar em suas grades horárias, com pautas que pouco ou nada combinavam com a Copa do Mundo.
Na primeira fase o Brasil não foi brilhante, porém se classificou em primeiro de seu grupo para enfrentar o Chile. No jogo das oitavas de final, a seleção goleou por 3x0 e no fim da partida Dunga descontou toda a raiva que sentia nos jornalistas, dizendo serem eles os maiores adversários da seleção, que só estavam ali para fazer críticas e reclamar, e que em momento algum elogiaram o Brasil. Contudo, o que mais chamou a atenção nesta coletiva foi a discussão que Dunga teve com o jornalista Alex Escobar, da TV Globo. Na ocasião, Dunga sussurrou palavras de baixo calão para o jornalista, o chamando de ‘cagão’ repetidas vezes.
Como não poderia deixar de ser, esta atitude do treinador repercutiu negativamente em toda a mídia brasileira, que o acusava de ser uma pessoa destemperada e sem nenhum preparo para assumir o cargo que lhe foi confiado. Estas críticas aumentaram muito mais com a precoce desclassificação brasileira para a Holanda nas quartas de final do torneio. Dunga foi apontado por todos como um dos principais responsáveis pela eliminação do Brasil na Copa, junto com Felipe Melo, volante da seleção.
Dunga voltou para o Brasil massacrado, julgado e condenado por toda a opinião pública. Sua passagem na seleção ficou marcada como a ‘nova era Dunga’, onde o futebol brasileiro se afastou definitivamente de suas características mais marcantes: a graça, o talento e a improvisação que só o brasileiro possui. Esta seleção de 2010 será para sempre lembrada por um futebol eficiente, que venceu tudo o que disputou antes da Copa, mas que quando chegou no momento de decidir, falhou!
E para todos fica a lição: é possível sim ter uma relação cordial com a imprensa. É possível sim ter um ex-jogador de futebol à frente da seleção de seu país. E é possível sim jogar um futebol que consegue aliar a técnica com a eficiência. Prova disto é a Espanha, cujo técnico Vicente Del Bosque é um ex-jogador, que não saiu criticando todas as mídias dizendo que os jornalistas são os principais inimigos e responsáveis por um eventual fracasso de sua seleção, e que conseguiu num curto período de tempo ser campeão dos dois maiores torneios de futebol do mundo: o campeonato europeu de seleções em 2008 e a Copa do Mundo em 2010.
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