“A vida e o mundo não se cansam de mostrar que não cabem em uma pirâmide invertida”. A frase de Dimas Antônio Künsch suscita muitas questões. “Inútil arrochar o cinto do presente imediato, para tentar fazê-lo entrar, aos tapas e empurrões, na cela-forte do pensamento monocausal, determinista, e das técnicas e vícios que desse tipo de pensamento emergem e nele se sustentam”, continua o autor. O mundo é complexo, não existem explicações completamente objetivas, caminhos que não se bifurquem, nem garantias de aonde se dirigem. Hoje em dia, no ritmo desenfreado em que a informação é produzida, veiculada e logo descartada, como conseguir fugir dos moldes gerados pelo imediatismo para assim poder aproximar o jornalismo do pensamento complexo?
É com as palavras citadas acima que Künsch, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), dá início ao livro Maus Pensamentos: os mistérios do mundo e a reportagem jornalística. Na obra, é analisada a produção de quatro revistas latino-americanas com o objetivo de delinear em que visão do mundo constroi-se a mediação da informação.
O autor refere-se a crise de paradigmas contemporânea e como ela repercute no jornalismo. Primeiro, houve a ruptura entre ciência e senso comum. Hoje, outra necessidade se impõe: a de estabelecer o diálogo entre ambos, raciocínio objetivo e visão subjetiva da realidade, ou, em outras palavras, a necessidade de exercer o pensamento complexo. Este ‘propõe ao sujeito do conhecimento o cultivo de uma atitude compreensiva em face do real – esse real complexo, com espaço também para o espanto e admiração frente ao mistério, o inefável’. Künsch vai além e afirma que o pensamento complexo não se preocupa apenas com o que é eticamente responsável, também lhe concernem as consequências sociais e políticas do conhecimento.
Assim deve ser o jornalismo. A reportagem não se encaixa na visão objetiva e matemática do mundo, mas sim, impregna-se do senso comum, sensibiliza-se frente ao cotidiano para poder compreendê-lo. Assim, quando enfrentado com a complexidade do mundo, o jornalismo torna-se solidário aos dramas humanos, dá voz aos anônimos e excluídos, contesta a ordem que alberga a desigualdade; informa, emociona e ao mesmo tempo propõe reflexão, cumprindo assim com seu compromisso ético.
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