23 de set. de 2012

Impressões sobre a primeira reunião do ciclo de debates "Observatórios de Mídia"

por Matheus Sette


O SOS Imprensa retomou suas atividades abertas na última sexta-feira (21). Após longo período de reestruturação, o retorno das discussões abertas trouxe novidade recente: a divisão dos assuntos debatidos em eixos mensais. O tema trazido pela dupla encarregada no mês atual é uma reflexão, urgente, sobre a atuação do projeto como observatório de mídia.

O texto em pauta, Crítica da mídia: da resistência civil ao desenvolvimento humano, de Luiz Gonzaga Motta, baseou o debate sobre o surgimento dos observatórios de mídia no Brasil e sua ascensão como expressão de cidadania e exercício democrático. O artigo também trata da importância da crítica da mídia como resistência aos abusos do centralismo da indústria cultural e informativa.


A problemática do tema para o projeto gira em torno das mesmas questões. O debate, no entanto, teve início a partir do questionamento sobre o ponto de vista adotado pelo autor no texto de apresentação do livro Observatórios de mídia: olhares da cidadania, no qual está presente o artigo:
Quando irritado ou constrangido, o telespectador usa o controle remoto e abandona a programação que lhe faz mal. Quando insatisfeito com a matéria parcial da revista, a leitora deixa de lado a publicação e passa a ler a concorrente. Mas não é só. O público, cada vez mais, percebe que sua relação com os meios de comunicação pode ir além do simples contrato de receber passivamente pacotes de informação e entretenimento. 

O público, cada vez mais, quer participar do processo, quer interagir, opinar, criticar e sugerir. Essa mudança de cultura já está infiltrada nas sociedades e ganha maior evidência nos contextos em que a democracia está mais consolidada. Isto é, hoje, a cidadania também é exercida na arena da mídia, na frente da TV, ao pé do rádio, diante da telinha do computador ou das páginas impressas.
Trata-se do aumento da participação crítica do público (leitores, telespectadores etc.) como dado certo. No debate, tal opinião se mostrou ambígua: se, com efeito, as notícias vêm sendo lidas com maior rigor, e se há uma relação positiva e crescente dos receptores com a informação, qual seria a finalidade dos observatórios de mídia nesse contexto? Colocada a pergunta, fica claro que repensar sobre a importância e o posicionamento do SOS Imprensa daqui em diante não pode ignorar sua relevância social, nem a forma como pretende promover suas atividades de observatório de imprensa.

O texto de Luiz Gonzaga Motta expõe a atuação dos observatórios existentes como divididas em perfis mais ou menos politizados: há aqueles que se atêm à analise dos aspectos técnicos da produção jornalística e há os mais preocupados com o exercício ético da profissão. Por ter sido fundado, inicialmente, como serviço de amparo a possíveis vítimas de agressões midiáticas, o SOS Imprensa sempre esteve mais próximo da reflexão crítica sobre a ética do jornalismo. Aí, colocam-se alguns problemas.

De que estaríamos munidos para exercer essa crítica a respeito dos meios de comunicação? Se a produção do projeto até então tem se valido tanto de argumentos técnico-profissionais quanto de temas que tangem a especificidade do discurso jornalístico — a representatividade política, a crítica social, as questões de gênero, o abuso dos formadores de opinião, para citar alguns —, cabem, sempre, não apenas o aprofundamento teórico, como também o conhecimento específico das técnicas jornalísticas. Em ambos os casos, a formação curricular sozinha é deficiente e insatisfatória.

Ademais, o fato de o público das discussões do SOS e do blog ser constituído, quase que exclusivamente, de alunos da Faculdade de Comunicação, ex-membros do projeto e professores da área coloca em questão o alcance da crítica promovida e o interesse do público leigo na leitura aprofundada da mídia, pontos contemplados no texto de Luiz Gonzaga Motta. Tanto lá quanto aqui, o problema está longe de encontrar uma solução universal. Para nós, porém, o assunto remete à necessidade de implementação de projetos pedagógicos de leitura da mídia na educação básica.

Essa necessidade, já apontada e trabalhada no eixo “SOS nas Escolas” — que tem como missão levar a discussão dos meios de comunicação, por meio de oficinas e palestras, a turmas de ensino médio da rede pública do Distrito Federal — nos traz a dúvida: afinal, estamos realmente promovendo extensão ou apenas encerrando nossa crítica no conforto e na proteção do ambiente universitário?

Os debates abertos acerca do assunto continuarão a ocorrer semanalmente, e esperamos que a leitura e a reflexão ajudem a definir uma atuação mais criteriosa do SOS Imprensa como o observatório que se propõe.

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