Por Carolina Nascimento
Sábado, 3h45 da
manhã. Entorpecida com sintomas da gripe, vejo-me sentada em um dos frios
bancos de um hospital particular. É preciso ter uma credencial para estar ali,
afinal não é qualquer um que pode circular por tão seleto ambiente. Assim, mostro
minha carteirinha do plano de saúde e logo a atendente me direciona para a
distribuição de pulseirinhas VIP. Ganhei a verde. Urgência relativa. Talvez eu
não seja tão VIP assim.
Depois de tirar
minha pressão e de um breve desconfortável papo-de-elevador sou encaminhada
para o balcão de atendimento. Difícil entrar nessa festa. Apresento mais uma
vez minha credencial, agora com minha identidade. Papelada. Burocracia.
Sento-me de novo e aguardo o médico. Alguns minutos depois sou chamada e quando
vejo já estou medicada com uma agulha na veia. (Open bar?).
Saio do
hospital, me dirijo a farmácia e gasto 15% do meu salário em três caixas com 8
comprimidos que me farão sentir melhor. Nem leio a bula, seria esgotar mais
ainda meu cérebro com aqueles palavrões que nem sei pronunciar. Tomo o remédio,
mas não consigo deixar de sentir um desconforto generalizado. Talvez possa ser
o ar condicionado gelado do hospital, o cheiro de álcool em gel e borracha, a
constante limpeza do ambiente ou a frieza dos cuidadores. Mas uma coisa é
certa, a assepsia encontrada em hospitais não só previne o contágio do paciente
com a bactéria, mas também o contato do paciente leigo com a indústria médica e
farmacêutica.
O que é
realizado dentro de uma comunidade científica é meticulosamente analisado antes
de ser apresentado ao grande público. A grande caixa-preta da medicina –
fechada e intocável - nos faz levantar muitas questões: em um mundo tão moderno
e acelerado, como ainda não temos cura para doenças quase centenárias como AIDS
e câncer? Porque o ebola matou primeiramente milhares na África, mas só quando
chegou aos EUA que se investiu em pesquisas para buscar uma cura? Quem define e
hierarquiza os objetos de estudo dos cientistas? A sociedade não deveria
interferir, demandando pesquisas?
Em 2007, o
periódico La Vanguardia publicou uma entrevista [1] com o Nobel de medicina
Richard J. Roberts com afirmações muito graves contra a indústria farmacêutica.
Roberts denuncia o bloqueio dos medicamentos que curam e o desvio das pesquisas
para que não se chegue a nenhuma resposta, pois curar não gera lucro. Sete anos
depois, o Nobel voltou à [2] mídia afirmando que haviam deturpado suas palavras
e que não era isso que ele teria dito. Dito ou não, o periódico levantou
questões muito válidas que continuam passeando em meu imaginário,
principalmente quando espirro.
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