Por Ana Cláudia Gonçalves
Homem é acusado de pedofilia por tirar selfie perto de crianças e, logo
depois de confirmado o engano, acusadora é perseguida nas redes sociais.
Vivemos
hoje o que se pode chamar da era da autopromoção. Por de trás das telas de
nossos computadores achamos que estamos completamente seguros e isso é extremamente perigoso. Temos essa impressão errada de que agora podemos falar tudo que nos vier a cabeça. Não nos preocupamos com as consequências de nossas palavras, pois não podemos ver a reação do outro. Tornamo-nos repórteres de nós mesmos, fazendo
matérias e fotos constantemente da nossa imagem como se fossemos celebridades
da maior importância e distribuímos xingamentos e discursos de ódio a quem quiser ouvir.
FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK
O caso
ocorrido na Austrália semana passada exemplifica bem isso. Um homem que andava pelo
shopping de Melbourne, na Austrália, passou por um cartaz em uma loja de
brinquedos que comemorava o conhecido Dia do Star Wars, 4 de maio. Por ser fã
da série, assim como seus filhos, o homem decidiu tirar uma famosa selfie com o pôster para mandar para
seus filhos. Pediu, então, licença as crianças que se encontravam ali, tirou a
foto e saiu. Uma atitude bem normal, nada de extraordinário.
A mãe de uma das crianças que estava próxima ao
local, contudo, viu a cena e a interpretou como um ato de pedofilia do homem,
assumindo que ele tirava uma foto das crianças e não do cartaz. A mulher
fotografou o homem no local e postou em seu perfil no facebook chamando-o de creep, expressão que denota pessoa
esquisita e, geralmente, de mau caráter. Logo a imagem se tornou viral, com mais
de 20 mil compartilhamentos.
A foto tirada pela mãe. FOTO:
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
O homem apenas se deu conta do que estava ocorrendo quando recebeu ligações de parentes pedindo para tomar cuidado ao sair do trabalho, pois ele já havia recebido diversas ameaças via redes sociais. Desconcertado, o homem resolveu recorrer a imprensa para contar seu lado da história e tentar recuperar o pouco de sua imagem que tinha restado. Imediatamente, a internet mudou de lado.
A mulher, que antes era acusadora e ao mesmo tempo vítima, passou a ser vista como inconsequente e agora era taxada de caluniadora. Recebeu diversas ameaças, até mesmo de morte pela internet. Desculpou-se e lamentou todo o transtorno causado ao homem e sua família, mas isso não retratou sua imagem. Agora é a mulher e seus filhos que são intimidados diariamente por causa de um mal entendido tão simplório.
A inversão das
situações tão rapidamente e o nível que atingiram apenas revelam o ponto
absurdo a que chegamos. A internet passou a ser uma máscara para que se possa
falar abertamente impropérios e ofensas a todos sem sofrer qualquer
consequência. Hoje, as redes sociais se tornaram locais extremamente propícios
para a disseminação do racismo, do machismo, da homofobia, do preconceito e do
ódio em geral. Não há mais a preocupação com o fato de que existem seres
humanos do outro lado da tela.
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