30 de jun. de 2015

Quais são suas prioridades?

Por Vivi Morais

Tudo parece muito valioso quando você é novo. Seus bens materiais, seu trabalho, sua aparência, suas palavras e sentimentos - e a exposição deles.
Tudo tem uma importância decisiva e parece que toda e qualquer decisão vai mudar o resto da sua vida como se você fosse ser jovem para sempre e como se todo aquele valor não fosse mudar. Como se as pessoas fossem ficar lá para sempre também - elas podem até ficar “para sempre” mas como cantou Renato Russo “o pra sempre sempre acaba”. Nem que seja com a morte.
Independente do campo profissional, passamos a vida buscando notoriedade, amores infinitos ou ao menos um trabalho que nos dê uma futura estabilidade financeira. Procuramos atingir metas pontuais e para chegar lá abusamos da coitada da nossa saúde - mas aí já é tópico para outro texto.

Nos espelhamos em pessoas de vinte e muitos anos, queremos alcançar os objetivos de pessoas de trinta e poucos anos. 
Mas quantas daquelas figuras nas quais você se espelha estão vivas pra você? Existem aquelas pessoas as quais suas imagens foram congeladas em certa idade - ou pela morte ou pelo tempo mesmo. Seja Chico Buarque, seja Brigitte Bardot. Pessoas que foram endeusadas em certo período de suas vidas mas que, como todo mundo, envelheceram.

Fonte: Pinterest

Mas como é que a gente vai lembrar disso se a todo momento somos bombardeados com prevenções e métodos "antienvelhecimento" como se envelhecer fosse uma doença. Infinitas formas de fugir do corpo que uma hora ou outra vai ceder.
Temos de concordar que não é muito justa a imagem que nos passam dos setenta anos de idade. Congelam-se os corpos, as palavras e até os desejos sexuais dos mais velhos. 
Mas sabe de uma coisa? Você muito provavelmente vai chegar lá. Porque na vida se não é passageiro é o fim. Se você não está morto, você está envelhecendo.
A pele flácida, a aposentadoria, os sentidos cedendo.
Pessoas indo, vindo, mudando, morrendo, nascendo.

Tudo isso é tão natural e lindo quanto o movimento da Terra.
E o que são as prioridades?
Talvez sejam aquelas coisas que você deseja que durem por mais tempo.
Talvez sejam as coisas que você acredita que vão te fazer durar por mais tempo.


17 de jun. de 2015

Meios de Comunicação auxiliam no Combate ao Tabagismo

No final do mês de maio, o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) lançou a campanha “Advertências impossíveis de ignorar”, que tem como objetivo diminuir o uso do cigarro no Brasil. A agência de Publicidade responsável pela campanha é a Publicis Brasil. A principal aposta da ideia é um hotsite em que a pessoa cria sua própria advertência para pôr no maço de cigarro de quem ela quer que pare de fumar. O início da veiculação da iniciativa coincide com o Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio. 

Fonte: http://www.sbt.com.br/semtabaco/ 

Dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do ano de 2013, mostram que o número de fumantes no Brasil caiu para 11,3%. Para se ter uma ideia, em 1989, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o número de fumantes em território nacional era de 34,8% da população. 

Um estudo divulgado em 2013, no Relatório Semanal sobre Morbidade e Mortalidade, chamado Antismoking Messages and Intention to Quit - 17 Countries, 2008–2011 (em tradução livre: Mensagens antitabagismo e intenção de parar – 17 países, 2008 -2011) mostra a eficácia de quatro meios de comunicação (televisão, rádio, letreiros, jornais ou revistas) em campanhas contra essa droga.
 Como o título já sugere, a pesquisa foi feita a partir de dados dos 17 países que fazem parte do GATS (Global Adult Tobacco Survey). O GATS é ligado a OMS (Organização Mundial da Saúde) e faz levantamentos levantamento de dados acerca do uso do tabaco entre adultos. O Brasil é o único membro da América do Sul que faz da pesquisa.
No levantamento foi constatado que a porcentagem de fumantes no Brasil é de 16,9 %. Do total de usuários do cigarro 18,7 % afirmam que pretendem largar o hábito. Não obstante, a pesquisa apurou o número de fumantes que noticiaram informações antifumo nos últimos 30 dias: 45,3 % na televisão, 16,8% no rádio, 22,6% em letreiros,  12,8% em jornais ou revistas e 55,1 % em qualquer um dos quatro meios mencionados anteriormente. Ademais, 90,7%  dos fumantes afirmam terem visto alguma advertência em rótulos de cigarros, e 54,9%  dizem terem visto marketing pró-tabaco. 

É inegável que os meio de comunicação de massa, principalmente os que têm um forte apelo visual e emotivo, exercem um papel fundamental nas campanhas antitabagismo. Conquanto, deve-se ressaltar outras formas de combate ao tabagismo, tais como: a lei antifumo regulamentada em 2014 e o uso obrigatório de advertências em maços de cigarro em 2002.

Referência Bibliográfica

http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm6221a2.htm?s_cid=mm6221a2_w


10 de jun. de 2015

Indústria médica e farmacêutica: uma indústria como outra qualquer?



Por Carolina Nascimento

Sábado, 3h45 da manhã. Entorpecida com sintomas da gripe, vejo-me sentada em um dos frios bancos de um hospital particular. É preciso ter uma credencial para estar ali, afinal não é qualquer um que pode circular por tão seleto ambiente. Assim, mostro minha carteirinha do plano de saúde e logo a atendente me direciona para a distribuição de pulseirinhas VIP. Ganhei a verde. Urgência relativa. Talvez eu não seja tão VIP assim.
Depois de tirar minha pressão e de um breve desconfortável papo-de-elevador sou encaminhada para o balcão de atendimento. Difícil entrar nessa festa. Apresento mais uma vez minha credencial, agora com minha identidade. Papelada. Burocracia. Sento-me de novo e aguardo o médico. Alguns minutos depois sou chamada e quando vejo já estou medicada com uma agulha na veia. (Open bar?).
Saio do hospital, me dirijo a farmácia e gasto 15% do meu salário em três caixas com 8 comprimidos que me farão sentir melhor. Nem leio a bula, seria esgotar mais ainda meu cérebro com aqueles palavrões que nem sei pronunciar. Tomo o remédio, mas não consigo deixar de sentir um desconforto generalizado. Talvez possa ser o ar condicionado gelado do hospital, o cheiro de álcool em gel e borracha, a constante limpeza do ambiente ou a frieza dos cuidadores. Mas uma coisa é certa, a assepsia encontrada em hospitais não só previne o contágio do paciente com a bactéria, mas também o contato do paciente leigo com a indústria médica e farmacêutica.
O que é realizado dentro de uma comunidade científica é meticulosamente analisado antes de ser apresentado ao grande público. A grande caixa-preta da medicina – fechada e intocável - nos faz levantar muitas questões: em um mundo tão moderno e acelerado, como ainda não temos cura para doenças quase centenárias como AIDS e câncer? Porque o ebola matou primeiramente milhares na África, mas só quando chegou aos EUA que se investiu em pesquisas para buscar uma cura? Quem define e hierarquiza os objetos de estudo dos cientistas? A sociedade não deveria interferir, demandando pesquisas?
Em 2007, o periódico La Vanguardia publicou uma entrevista [1] com o Nobel de medicina Richard J. Roberts com afirmações muito graves contra a indústria farmacêutica. Roberts denuncia o bloqueio dos medicamentos que curam e o desvio das pesquisas para que não se chegue a nenhuma resposta, pois curar não gera lucro. Sete anos depois, o Nobel voltou à [2] mídia afirmando que haviam deturpado suas palavras e que não era isso que ele teria dito. Dito ou não, o periódico levantou questões muito válidas que continuam passeando em meu imaginário, principalmente quando espirro.



26 de mai. de 2015

Atrás da tela de um computador: quem somos?

Por Ana Cláudia Gonçalves 


Homem é acusado de pedofilia por tirar selfie perto de crianças e, logo depois de confirmado o engano, acusadora é perseguida nas redes sociais.
               


                Vivemos hoje o que se pode chamar da era da autopromoção. Por de trás das telas de nossos computadores achamos que estamos completamente seguros e isso é extremamente perigoso. Temos essa impressão errada de que agora podemos falar tudo que nos vier a cabeça. Não nos preocupamos com as consequências de nossas palavras, pois não podemos ver a reação do outro. Tornamo-nos repórteres de nós mesmos, fazendo matérias e fotos constantemente da nossa imagem como se fossemos celebridades da maior importância e distribuímos xingamentos e discursos de ódio a quem quiser ouvir.
FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

O caso ocorrido na Austrália semana passada exemplifica bem isso. Um homem que andava pelo shopping de Melbourne, na Austrália, passou por um cartaz em uma loja de brinquedos que comemorava o conhecido Dia do Star Wars, 4 de maio. Por ser fã da série, assim como seus filhos, o homem decidiu tirar uma famosa selfie com o pôster para mandar para seus filhos. Pediu, então, licença as crianças que se encontravam ali, tirou a foto e saiu. Uma atitude bem normal, nada de extraordinário.

           A mãe de uma das crianças que estava próxima ao local, contudo, viu a cena e a interpretou como um ato de pedofilia do homem, assumindo que ele tirava uma foto das crianças e não do cartaz. A mulher fotografou o homem no local e postou em seu perfil no facebook chamando-o de creep, expressão que denota pessoa esquisita e, geralmente, de mau caráter. Logo a imagem se tornou viral, com mais de 20 mil compartilhamentos.


A foto tirada pela mãe. FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK


O homem apenas se deu conta do que estava ocorrendo quando recebeu ligações de parentes pedindo para tomar cuidado ao sair do trabalho, pois ele já havia recebido diversas ameaças via redes sociais. Desconcertado, o homem resolveu recorrer a imprensa para contar seu lado da história e tentar recuperar o pouco de sua imagem que tinha restado. Imediatamente, a internet mudou de lado.
A mulher, que antes era acusadora e ao mesmo tempo vítima, passou a ser vista como inconsequente e agora era taxada de caluniadora.  Recebeu diversas ameaças, até mesmo de morte pela internet. Desculpou-se e lamentou todo o transtorno causado ao homem e sua família, mas isso não retratou sua imagem. Agora é a mulher e seus filhos que são intimidados diariamente por causa de um mal entendido tão simplório.
A inversão das situações tão rapidamente e o nível que atingiram apenas revelam o ponto absurdo a que chegamos. A internet passou a ser uma máscara para que se possa falar abertamente impropérios e ofensas a todos sem sofrer qualquer consequência. Hoje, as redes sociais se tornaram locais extremamente propícios para a disseminação do racismo, do machismo, da homofobia, do preconceito e do ódio em geral. Não há mais a preocupação com o fato de que existem seres humanos do outro lado da tela.



23 de mai. de 2015

Entre abelhas: a diferença entre ver e enxergar

Por Vivi Morais


Fazia tempo que um filme não me fazia pensar tanto. Normalmente, existem aqueles filmes que você vai ver sabendo que carrega uma mensagem mas “Entre abelhas” é quase uma pegadinha, se tenho a permissão de definir assim. Você entra na sala de cinema esperando algo, ou melhor, não esperando coisa alguma e acaba recebendo um clarão na cara que das duas uma: ou vai te estressar e te fazer achar o filme ruim ou vai clarear sua visão de vez.

O filme conta a história de Bruno (Fábio Porchat), recém separado que tem dificuldade em aceitar essa ruptura em sua vida. Enquanto seu melhor amigo Davi (Marcos Veras) tenta reanimar o cara com ações e palavras, no mínimo machistas, Bruno ainda se vê procurando alguma forma de reverter sua separação. E então, do nada, as pessoas começam a desaparecer. Na verdade, Bruno só não consegue mais enxergá-las.
O resto da história vale a ida ao cinema para ser contada por si só mas a reflexão extrapola os limites da tela.




Já pensou quem vai ser a última pessoa lembrada por você antes de morrer? Qual foi a última vez que você perguntou para alguém da sua família se estava tudo bem com interesse na resposta

Na correria da vida e dos nossos próprios problemas, o conjunto de pessoas que realmente são enxergadas por nós são pouquíssimas. Às vezes a gente não enxerga ninguém.
Os casos de pessoas que se suicidam e os conhecidos dizem "Mas ele(a) estava tão normal." demonstram bem isso. Será mesmo que alguém pode chegar ao ponto de se suicidar sem antes ter demonstrado nenhum sinal estranho? Ou isso é porque não havia ninguém que olhasse de verdade para os seus sinais?





Infelizmente, existe também uma falha no percurso que permite que, mesmo que você veja a outra pessoa, não quer dizer que essa relação vai ser mútua. Já te cumprimentaram e você não lembrou de onde conhecia o indivíduo? Nem depois dele tentar te fazer lembrar? É como se a pessoa não tivesse feito parte daquele cenário na sua vida. 

Por isso também, nos agarramos tantos em relacionamentos afetivos monogâmicos que, teoricamente, dão uma estabilidade. Ao mesmo tempo que há a "certeza" de que a pessoa vai estar lá contigo sempre te colocando em primeiro plano, enxergar só uma pessoa e colocá-la como prioridade é mais prático. 
Relacionamentos com esse tipo de base costumam caminhar por rumos abusivos e, quando/se terminados, causam um sofrimento que vai além da perda usual. Dá um medo do esquecimento. Medo de desaparecer.

"Entre abelhas" desperta em cada pessoa um sentimento diferente por deixar em aberto uma questão tão real de um jeito surreal. Deixar-se refletir é necessário mas se render às possibilidades pode ser enlouquecedor. Filme super indicado pra quem não tem medo de repensar as próprias escolhas.