23 de mai. de 2015

Entre abelhas: a diferença entre ver e enxergar

Por Vivi Morais


Fazia tempo que um filme não me fazia pensar tanto. Normalmente, existem aqueles filmes que você vai ver sabendo que carrega uma mensagem mas “Entre abelhas” é quase uma pegadinha, se tenho a permissão de definir assim. Você entra na sala de cinema esperando algo, ou melhor, não esperando coisa alguma e acaba recebendo um clarão na cara que das duas uma: ou vai te estressar e te fazer achar o filme ruim ou vai clarear sua visão de vez.

O filme conta a história de Bruno (Fábio Porchat), recém separado que tem dificuldade em aceitar essa ruptura em sua vida. Enquanto seu melhor amigo Davi (Marcos Veras) tenta reanimar o cara com ações e palavras, no mínimo machistas, Bruno ainda se vê procurando alguma forma de reverter sua separação. E então, do nada, as pessoas começam a desaparecer. Na verdade, Bruno só não consegue mais enxergá-las.
O resto da história vale a ida ao cinema para ser contada por si só mas a reflexão extrapola os limites da tela.




Já pensou quem vai ser a última pessoa lembrada por você antes de morrer? Qual foi a última vez que você perguntou para alguém da sua família se estava tudo bem com interesse na resposta

Na correria da vida e dos nossos próprios problemas, o conjunto de pessoas que realmente são enxergadas por nós são pouquíssimas. Às vezes a gente não enxerga ninguém.
Os casos de pessoas que se suicidam e os conhecidos dizem "Mas ele(a) estava tão normal." demonstram bem isso. Será mesmo que alguém pode chegar ao ponto de se suicidar sem antes ter demonstrado nenhum sinal estranho? Ou isso é porque não havia ninguém que olhasse de verdade para os seus sinais?





Infelizmente, existe também uma falha no percurso que permite que, mesmo que você veja a outra pessoa, não quer dizer que essa relação vai ser mútua. Já te cumprimentaram e você não lembrou de onde conhecia o indivíduo? Nem depois dele tentar te fazer lembrar? É como se a pessoa não tivesse feito parte daquele cenário na sua vida. 

Por isso também, nos agarramos tantos em relacionamentos afetivos monogâmicos que, teoricamente, dão uma estabilidade. Ao mesmo tempo que há a "certeza" de que a pessoa vai estar lá contigo sempre te colocando em primeiro plano, enxergar só uma pessoa e colocá-la como prioridade é mais prático. 
Relacionamentos com esse tipo de base costumam caminhar por rumos abusivos e, quando/se terminados, causam um sofrimento que vai além da perda usual. Dá um medo do esquecimento. Medo de desaparecer.

"Entre abelhas" desperta em cada pessoa um sentimento diferente por deixar em aberto uma questão tão real de um jeito surreal. Deixar-se refletir é necessário mas se render às possibilidades pode ser enlouquecedor. Filme super indicado pra quem não tem medo de repensar as próprias escolhas.



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