Esse texto não é uma crítica a uma pessoa, organização ou acontecimento específico que, por ventura, possa ter ocorrido recentemente. Antes de qualquer coisa é uma reflexão sobre o uso da linguagem feito pelos comunicadores, que podem segregar o público se não forem consideradas as realidades sociais e a falta de acesso de alguns a vocabulários um pouco mais complexos do que os usados diariamente.
Vito Giannotti, em seu livro Muralhas da Linguagem aborda o tema. Ele se remete à ideia de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e aplica à comunicação. Onde essa realidade pode ser identificada no uso da linguagem? O Brasil cria com suas particularidades um ambiente delicado para os profissionais de comunicação. O desafio de exercer a profissão de forma clara e em alto nível está posto.
“Vou utilizar esta palavra que é tão simples para mim”. “Essa expressão é óbvia, todos conhecem”. Estes pensamentos devem ser evitados. Pode parecer estranho, mas os filhos da senzala, como diz Giannotti, podem não ver com tanta clareza um termo que parece comum a um jornalista, por exemplo. A falta de educação formal ainda é um problema presente, e fica evidente quando a compreensão do adjetivo otimista, tido como óbvio por muitos, é posta em dúvida.
Nas eleições presidenciais de 2002, os candidatos que se disseram otimistas foram prejudicados. Dona Edileusa, que à época morava em Pernambuco, entendeu que com os candidatos otimistas tudo daria errado. Isso porque ser otimista no cotidiano dela, e de tantas mais que compartilham a mesma realidade social, possuir essa virtude representa outras coisas, como por exemplo, esperar que as piores condições passem um dia. Isto, aliado à falta de educação formal, a faz interpretar dessa forma negativa, segundo Giannotti.
Por fim, o profissional tem além de suas atribuições, a responsabilidade de levar a essas pessoas a informação de forma clara e objetiva, respeitar essa limitação e colaborar para sua inserção social por meio da comunicação, que é uma grande arma nas lutas sociais.
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