4 de jan. de 2012

Ai, se eu te pego, Época

Por Camila Curado

Foto: Divulgação/Época
Este é o primeiro texto do blog SOS Interativo no ano de 2012. Diante da responsabilidade de escrevê-lo e na minha situação de férias, comecei a procurar por um tema que se encaixasse nesses parâmetros. Algo que fosse de meu interesse e se apresentasse adequado para iniciar o ano no blog. Veio a mim, a ideia de falar sobre o fim do mundo, clichê, mas completamente cabível. Mas não é algo que me pareça tão interessante. Então, nada melhor do que falar sobre as chuvas devastadoras que, pela terceira vez consecutiva (se já não se arrasta sequencialmente há mais tempo) vem abrindo mais um ano com tragédias e mortes. Por fim, nesta madrugada do dia 4, depois da enxurrada de críticas à matéria da revista Época, na qual traz na capa o cantor Michel Teló, ouço a música "Ai, se eu te pego" tocar na casa ao lado de onde eu estou. Já são quase quatro da manhã e, desde as três horas, a música não para de tocar.

E, então, eu me pergunto "por quê?". Coincidência? Provocação? Devemos admitir que o nome disso seja sucesso. E, antes que qualquer roqueiro ou apreciador de MPB venha se indignar, venho informar-lhes que este cantor paranaense não só se tornou a sensação de milhões de brasileiros, como também tem superado a banda Coldplay e a cantora Adele em países europeus como Espanha, Itália, Holanda e Bélgica com a canção "Ai se eu te pego", a qual é tratada pela revista Época como tradutora dos "valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes". Para muitos é difícil aceitar essa fama estrondosa, mas é um fato. Independente da qualidade musical da obra de Teló, houve uma grande aprovação por parte dos brasileiros, mais em algumas classes, menos em outras. As pessoas ouviram e gostaram. As mídias mais tradicionais reproduziram absurdamente esse hit e, então, tornou-se parte de nossas vidas.

Há vários fatores complexos a serem discutidos em episódios como este. O Brasil é um país grande, e o sucesso de talentos requer o quesito oportunidade. Depois, vem outras seleções mais mesquinhas e não sei se menos importantes para os produtores, como beleza, tipo de voz e estilo musical. Então, surgem Calypso, Victor e Léo, Mc Leozinho, entre inúmeros outros que eu poderia citar rapidamente, com canções que acabam marcando, de uma forma ou de outra, uma parte de nossas vidas, por mais que, hoje, possamos ter um gosto musical tão divergente dos tão populares sertanejo, forró e funk. Tudo isso porque um fator de peso interfere no que escutamos e, talvez, até nas nossas escolhas: a mídia. Poderosa e traiçoeira. Os cantores já citados acima, juntamente à antiga dupla Sandy e Júnior e o grande sucesso dos anos 1990 “É o Tchan”, andam de mãos dadas nesse percurso trilhado em busca do sucesso. O que seriam deles se não fosse a mídia, divulgando massivamente, achando uma coisinha ali e aqui de brasileiro e os inserindo no nosso cotidiano?

Existe muito lixo musical fora da indústria fonográfica. Porém, dentro dela há mais restolho inútil ainda, com pouca ou nenhuma raiz cultural em si. E essa produção musical, como o hit do Michel Teló, foi denominada pela Época como tradução da nossa cultura. Não seria mais coerente pensar que esse tipo de música passa a fazer parte dos nossos costumes, ao invés de afirmar que ele os traduz? Vejo esse episódio mais como uma contínua construção de hábitos do que de uma interpretação da vida de uma população, ainda mais quando se trata de uma diversidade populacional numerosa como a do Brasil. A Época quis retratar um fenômeno brasileiro que está se expandindo mundialmente, porém foi infeliz na apresentação de afirmações sem base concreta. A "febre" se deve muito à propaganda, por vezes demasiada, acerca desse tipo de música nos veículos midiáticos, sem contar com a predisposição que boa parte dos brasileiros têm por esse estilo. Não dá para justificar esse acontecimento com um único argumento. O resultado do sucesso de "Ai, se eu te pego" é consequência de várias ações que combinam entre si e buscam muito mais expandir um conteúdo a ponto de ser dominado culturalmente do que reunir os costumes pré-existentes em um produto só.


Feliz ano-novo!

2 interações:

Mila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mila disse...

Eu li a matéria em questão e achei a abordagem da Época um tanto quanto exagerada. Penso que é precipitado classificar a música como tradução dos valores da nossa cultura. A cultura brasileira é diversificada, assim como seu povo. Pela abordagem da revista deu para perceber que só porque "Ai se eu te pego" é hit nas paradas europeias significa que ela é uma expressão do Brasil. Bem, existem os que gostam da música etc, mas creio que se ela for tratada desta forma é uma expressão muito simplória da nossa cultura. Por fim, como você ressaltou, há muito de investimento fonográfico aí, não só nesta faixa "Ai se eu te pego", mas na música em geral. Liguem nas rádios ditas "populares" e encontrarão os mesmos artistas, as mesmas músicas, apenas com a ordem invertida.

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