25 de jan. de 2012

Seja a garota Cinderela. Seja feliz para sempre!, uma realização Revistas Teen

por Laís Lara
“Era uma vez uma menina muito sofrida, vestia trapos e chorava pelos cantos (...) quando um belo dia (...) apareceu a fada madrinha que a (...) transformou em uma princesa.  (...) Ao lado do lindo príncipe, Cinderela viveu feliz para sempre”. (trechos do conto A Gata Borralheira/ Cinderela, versão popular)
Imagem: Divulgação/Disney
Diversas meninas crescem escutando estórias de princesas e, de forma inconsciente, internalizam como sinônimo de felicidade o primeiro beijo de amor. Pouco antes de entrarem na adolescência, já não querem escutar os contos de fadas, mas não percebem que continuam a apreciá-los, porém em outra versão – a das revistas teen.  

Se em algumas publicidades há o apelo à sexualidade e ao retrato do feminino ideal, as revistas teen percorrem um caminho semelhante, afinal, são, provavelmente, uma preparação para o contato com as publicidades “de adulto”. É fato: nenhum meio de comunicação precisa impor os ideais feministas ou fazer deles a política editorial da publicação; contudo, não é necessário diminuir a capacidade feminina por submetê-la a um relacionamento amoroso. Há duas verdades que a mídia, em diversos momentos, não consegue unir: a mulher pode ser feliz COM ou SEM um companheiro.


Entre as seis chamadas da capa da revista Capricho (edição de 30 de dezembro de 2011), três se referem à paquera (“O amor não tira férias. Por isso, saiba como NÃO passar o verão sozinha”) e duas aos métodos para “aprimorar” a beleza (“Supere! Perna e bumbum com estria”). Em meio ao bombardeio de modelos com traços europeus, de dicas para conquistar e manter um “ficante” e de páginas que sugerem cinco trocas de roupa com mais de 500 reais, duas matérias se focaram no incomum: garotas “gordinhas”

Na editoria TERAPIA, uma menina de 13 anos se sente triste e com vergonha de mostrar o corpo, pois é baixinha e tem curvas “que não dão para esconder com o biquíni”. Como forma de ajuda, há três conselhos: uma jovem de 17 anos a motiva a ser feliz, pois ela não tem nenhuma deficiência física; uma consultora de estilo e imagem diz para disfarçar o que não gosta no corpo, enquanto uma nutricionista dá a palavra de ordem: REGIME. A editoria seguinte, A INCRÍVEL HISTÓRIA, conta a vida de uma jovem de 17 anos que criou um canal no Youtube para combater o bullying. Além de reconhecimento e patrocínio para o projeto, conheceu a cantora que também foi ridicularizada quando menina, Lady Gaga. 

Ao primeiro olhar, as duas matérias conferem méritos à revista, pois há uma “aura” de inclusão e respeito. Uma análise mais detalhada, contudo, aponta problemas: antes e depois de se apresentar as dificuldades de uma jovem “gordinha” e de se pregar que ela deve “ser feliz como é”, todas as modelos da revista são magras, altas e com traços finos. Ademais, durante a leitura das matérias, subentende-se como valor humano a beleza do corpo e a o parceiro ideal. Portanto, a conclusão assusta: em mais de 70 páginas, apenas duas se voltam para o “normal”, para as garotas que não atingiram o padrão de beleza Cinderela.  Apesar de um relato de sucesso, a revista prioriza a mensagem-princesa e abusa do imperativo: arrume-se. Fique bela e seja feliz com (e para) o seu homem. 

As reportagens e imagens das revistas teen, por meio do conteúdo e da diagramação, influenciam a construção psicológica das jovens. O bombardeio de publicidade e de textos sobre sexualidade envelhecem as meninas e antecipam a concepção do amor Eros. 

Se Cinderela depende da Fada Madrinha para conhecer o Príncipe Encantado, as garotas necessitam das revistas teen para lhes ajudar a “capturar” o gato ideal. Os conselhos dessas fadas-amigas ignoram qualquer momento ou ambiente, desconsiderando os valores familiares e as limitações psicológicas de cada leitora, ou melhor, de cada JOVEM leitora que SONHA em ser a CINDERELA que viverá FELIZ PARA SEMPRE ao lado de um príncipe. 

Mas... e se esse sonho for interrompido? Como explicar à jovem princesa que o sapatinho de cristal está quebrado? Como explicar que o príncipe decidiu ir embora do castelo e não vai voltar para lhe fazer feliz?

Essas são possibilidades reais e não há revista teen que as explique. 

1 interações:

Ramilla disse...

As revistas teen só nos mostram como continua apregoado esse ideal de adolescente perfeita é a descolada+que conquistou o seu "gatinho" + magra + branca + cabelos lisos + roupas da moda. Poucas vezes vemos matérias que realmente contemplem a diversidade adolescente. Problemático a meu ver, pois nessa fase tanto meninas e meninos são levados a seguir estereótipos propagados pela sociedade e mídia.

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