Para
mim, computador é essencialmente um instrumento de trabalho. Por isso, ando
preocupada com os e-mails que diariamente aparecem na minha caixa de correio.
Como o volume aumenta incessantemente, cada vez perco mais tempo na seleção. É
a velha história de separar o joio do trigo.
O
inimigo persegue-me diretamente, surgindo não sei de onde para aborrecer-me. Antes
de apagar, leio rapidamente a mensagem. Dependendo do conteúdo, emoções
negativas instalam-se imediatamente, como perigosas invasoras. Sempre que isso
ocorre, sinto-me irritada e às vezes um tanto ofendida.
Divido
essas mensagens em duas categorias principais: as que pretendem animar-nos com
conteúdos religiosos, de autoajuda e/ou melosos (por exemplo, orações
intermináveis, flores que se abrem lentamente, geralmente ao som de música,
roubando vários minutos do nosso precioso tempo), e aquelas que, aparentemente,
querem beneficiar-nos com avisos, informações e conselhos.
É
mais fácil identificar as primeiras. Ao recebê-las, apago-as logo, quando
consigo. Às vezes é tão complicado fazê-lo que sou obrigada a desligar o
computador. As segundas, contudo, são mais complexas, pois cobrem uma quantidade
vastíssima de assuntos: informam sobre golpes terríveis aos quais estaríamos
sujeitos, na internet ou fora dela, explicam os malefícios - reais ou
imaginários - de medicamentos, dão dicas que chegam a ser bizarras sobre
assuntos igualmente extravagantes, falam mal de políticos, "combatem"
a corrupção. É impossível fazer uma relação completa dos temas abordados.
Os
dois tipos têm algo em comum: geralmente os textos são mal escritos, com
conteúdos moralistas, ultrapassados, autoritários, alarmantes, frutos de mentes
que se consideram donas da verdade. Como fazem parte de "correntes",
é impossível identificar seus autores. Não informam as fontes utilizadas, não
citam pesquisas. Sua única função é disseminar a paranoia generalizada. Além de
deixarem a desejar, do ponto de vista ético, esses textos são, esteticamente,
de absoluta pobreza.
Fico
zangada quando colegas enviam-me esses e-mails, menosprezando minha
inteligência e minha capacidade crítica. A raiva aumenta ainda mais quando os remetentes
são parentes ou amigos íntimos, que conhecem ou deveriam conhecer meu modo de
ser e de pensar. A estes, meu primeiro impulso é responder. Ainda bem que
aprendi a conter meus impulsos, pois detesto magoar os outros e perder amigos.
Rosângela Vieira Rocha é jornalista,
escritora e professora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.
Tem oito livros publicados. Lançou recentemente o infantil Três contra um, sobre
bullying na escola. Nem tudo foi carnaval, sua primeira obra para o público jovem, será lançada durante a Bienal
do Brasil.
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