10 de abr. de 2012

Manipulação no fotojornalismo: a criação do inexistente

Por Camila Curado

A palavra manipulação possui duas conotações distintas. Uma positiva, que se refere à atividade de fazer e construir algo com as mãos, e uma negativa, que significa truque e enganação. No fotojornalismo é prática antiética. Está previsto no Artigo 12 do Código de Ética do Jornalistas Brasileiros: “rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações”.

A busca pelo furo fotográfico, isto é, pelo flagra – captura de uma cena inédita -, agregada à velocidade das informações e à disputa entre fotojornalistas, gera uma grande pressão para o profissional. Isso impede uma reflexão sobre a fotografia e limita o espaço de se pensar acerca da melhor maneira de transmitir determinada mensagem.


A competição comercial determina que a melhor foto é aquela que mais causa impacto. O resultado disso é a quantidade excessiva de fotografias chocantes nos noticiários - o choro de uma mãe cujo filho acaba de ser assassinado por traficantes pode ser muito mais simbólico do que a imagem do sangue do jovem no asfalto. Além disso, a manipulação torna-se um aliado nas vendas utilizando-se de recursos rotineiros como edição (seleção) e tratamento de imagens. Com a prática, a credibilidade do fotojornalismo enfraquece.

Afinal, como confiar em um veículo que publica uma imagem de uma cena que não existe? E se for o The New York Times? Pois saiba que esse jornal cometeu um dos atos mais graves no fotojornalismo. Veja essa foto:




Publicada em 2004 pelo The New York Times, a foto remetia a um comício realizado em 1971 contra a guerra no Vietnã. Na imagem, aparece o senador norte-americano John Kerry ao lado da atriz e ativista Jane Fonda. O jornal afirmava que a foto foi fornecida por uma agência, porém o fato não se confirmou. E a foto não passava de uma montagem, afinal essa cena nunca existiu.



Isso nos remete a uma reflexão profunda e nos causa até certo temor. Como é possível um veículo de comunicação de renome internacional praticar atos tão antiéticos? Um fato grave desses não se restringe a meios midiáticos pequenos. Afinal, em quem confiar? O jornalismo tem a responsabilidade de ser fiel aos acontecimentos para transmiti-los à população. Mas, se isso não acontece, de que serviria essa profissão? O que se vê é o capitalismo no comando da profissão: interesses comerciais acima da ética e moral – atitudes que deveriam ser intrínsecas ao jornalismo. Este problema tem aumentado com o tempo e a tecnologia digital só tornou a manipulação ainda mais fácil e imperceptível. 

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