A palavra manipulação possui duas conotações distintas. Uma positiva, que
se refere à atividade de fazer e construir algo com as mãos, e uma negativa, que
significa truque e enganação. No fotojornalismo é prática antiética. Está
previsto no Artigo 12 do Código de Ética do Jornalistas Brasileiros: “rejeitar
alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade,
sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem,
edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações”.
A busca pelo furo fotográfico, isto é, pelo flagra – captura de uma cena
inédita -, agregada à velocidade das informações e à disputa entre
fotojornalistas, gera uma grande pressão para o profissional. Isso impede uma
reflexão sobre a fotografia e limita o espaço de se pensar acerca da melhor
maneira de transmitir determinada mensagem.
A competição comercial determina que a melhor foto é aquela que mais causa
impacto. O resultado disso é a quantidade excessiva de fotografias chocantes
nos noticiários - o choro de uma mãe cujo filho acaba de ser assassinado por
traficantes pode ser muito mais simbólico do que a imagem do sangue do jovem no
asfalto. Além disso, a manipulação torna-se um aliado nas vendas utilizando-se
de recursos rotineiros como edição (seleção) e tratamento de imagens. Com a
prática, a credibilidade do fotojornalismo enfraquece.
Afinal, como confiar em um veículo que publica uma imagem de uma cena que
não existe? E se for o The New York Times? Pois saiba que esse jornal cometeu
um dos atos mais graves no fotojornalismo. Veja essa foto:
Publicada em 2004 pelo The New York Times, a foto remetia a um comício
realizado em 1971 contra a guerra no Vietnã. Na imagem, aparece o senador
norte-americano John Kerry ao lado da atriz e ativista Jane Fonda. O jornal
afirmava que a foto foi fornecida por uma agência, porém o fato não se
confirmou. E a foto não passava de uma montagem, afinal essa cena nunca existiu.
Isso nos remete a uma reflexão profunda e nos causa
até certo temor. Como é possível um veículo de comunicação de renome
internacional praticar atos tão antiéticos? Um fato grave desses não se
restringe a meios midiáticos pequenos. Afinal, em quem confiar? O jornalismo
tem a responsabilidade de ser fiel aos acontecimentos para transmiti-los à
população. Mas, se isso não acontece, de que serviria essa profissão? O que se
vê é o capitalismo no comando da profissão: interesses comerciais acima da ética
e moral – atitudes que deveriam ser intrínsecas ao jornalismo. Este problema
tem aumentado com o tempo e a tecnologia digital só tornou a manipulação ainda
mais fácil e imperceptível.
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