As redes de TV americanas que cobriram as eleições intermediárias foram mais cautelosas que o usual e não declararam nenhuma mudança de poder no Congresso na noite de terça-feira (7/11), aparentemente na tentativa de não repetir os erros de 2004, quando os resultados de pesquisa de boca-de-urna vazaram desastrosamente.
Na ocasião, as pesquisas indicavam a vitória do senador democrata John Kerry para presidente – o que acabou sendo amplamente divulgado – erroneamente – pelas emissoras de TV.
Os jornalistas das emissoras televisivas e da agência Associated Press que estavam de plantão em um quarto sem janelas em Nova York, apelidado de "quarto da quarentena", para terem acesso exclusivo aos resultados da pesquisa feita pelo Consórcio Eleitoral Nacional (National Electoral Pool, em inglês), só puderam se comunicar com suas redações depois das cinco da tarde, horário final do pleito.
Cautela e desconfiançaDesta vez, mesmo com as pesquisas indicando vitória para os democratas, as redes de TV prefiram não divulgar imediatamente os resultados por não confiarem mais nos números da boca-de-urna. "Os números pareciam muito longe do esperado", afirma Allison Gollust, porta-voz da NBC News.
Na CNN, os jornalistas também foram instruídos a não confiarem nos resultados das pesquisas. "Por não oferecerem nenhuma base sustentável, a boca-de-urna não foi algo com o qual pudemos contar", diz Jon Klein, presidente da rede de notícias nos EUA.
Competição
Mesmo com cautela extra, em uma noite com três âncoras – Katie Couric, da CBS; Brian Williams, da NBC; e Charles Gibson, da ABC – estreando como líderes da cobertura eleitoral, foram feitos esforços para se ter uma vantagem competitiva das informações das pesquisas de boca-de-urna. Logo no início da apresentação do noticiário da CBS, liderado por Katie, o co-âncora Bob Schieffer anunciou uma possível vitória dos democratas. O comentarista Michael Barone, da Fox News, chegou a informar dados das pesquisas de boca-de-urna.
Na disputa entre as redes, a NBC foi a primeira a divulgar que os democratas haviam conseguido retomar o poder na Câmara. A ABC veio logo depois e, em seguida, a CNN. A proximidade revela que, mesmo com cautela, a competição entre as redes na noite das eleições ainda era forte.
Na ABC News, foi decidido que a cobertura das eleições seria ampliada de uma hora para uma hora e meia, começando logo depois do programa mais assistido do canal, o reality show Dancing with the Stars. Tal medida, tomada de última hora, impossibilitou as outras redes de mudar a grade de programação para competir com ela.
Resultados na web
Na internet, blogs políticos divulgaram os resultados das pesquisas e de algumas disputas individuais. Algumas emissoras, por sua vez, divulgaram os links dos blogs em seus sítios. A CNN, por exemplo, colocou em sua página uma longa lista de blogs que faziam a cobertura das eleições.
Blogs democratas, republicanos e independentes passaram a maior parte da quarta-feira (8/11) detalhando informações das disputas à Câmara e ao Senado. A novidade deste ano foi que muitos blogs acrescentaram links para clipes do sítio de compartilhamento de vídeos YouTube.
O sítio conservador
RedState.com relatou problemas no sistema eletrônico de votação, principalmente na Pensilvânia. Erick Erickson, "blogueiro-chefe" do RedState, divulgou um
link para um vídeo que mostrava um pesquisador certificado (que carregava uma câmera de vídeo) sendo barrado em um local de votação na Filadélfia.
Brad Friedman, talvez o mais crítico das urnas eletrônicas na blogosfera, afirmou que seu sítio de esquerda,
Bradblog.com, teve o auge da audiência quando informações de mal-funcionamento das máquinas eletrônicas começaram a ser divulgadas.
Poder blogueiro
Para Jonathan Zittrain, professor de governança da internet na Universidade Oxford, os blogs conquistaram agora um lugar importante na divulgação de eventos nacionais, principalmente em relação às eleições. "De certa maneira, eles estão ajudando a estabelecer a pauta na grande mídia", observa.
Este ano, um pouco antes das seis da tarde, alguns blogs obtiveram acesso aos resultados das pesquisas de boca-de-urna. Chris Bowers anunciou os números em seu sítio liberal
MyDD.com, mas alertou aos internautas para terem cuidado quanto à precisão das informações, porque os dados ainda não eram oficiais. Com informações de Bill Carter e Tom Zeller Jr. [The New York Times, 8/11/06].
Publicado no Observatório da Imprensa em 9/11/2006