5 de mai. de 2011

Muito Além do Barcelona VS Real Madrid

As semifinais da Liga dos Campeões, principal competição de futebol europeu, foram o grande assunto do esporte no Velho Mundo, principalmente na Espanha, onde os principais times do país se enfrentaram diretamente. De um lado, o Barcelona, representado a Catalunha. Do outro, o Real Madrid, da capital. Uma rivalidade histórica, que ultrapassa as barreiras do esporte e atinge âmbitos políticos.

A Espanha, apesar de ser um Estado-nação consolidado, apresenta manifestações de cunho nacionalista ocorridos em seu território, tanto em questões separatistas (ETA – no País Basco) tanto em questões de autonomia (Catalunha).


Uma das maneiras da manifestação do nacionalismo é o esporte, em especial, o futebol. O historiador Eric Hobsbawn cita que: "[...] o esporte como um espetáculo de massa foi transformado numa sucessão infindável de contendas, onde se digladiavam pessoas e times simbolizando Estados-nações, o que hoje faz parte da vida global." Vários exemplos de reafirmação nacionalista através do esporte podem ser encontrados no decorrer da história, vide o caso das Olímpiadas de Berlim, em 1936. No auge do nazismo, Hitler queria mostrar ao mundo a superioridade da raça ariana, o que não deu muito certo. Jesse Owens que o diga.

Na Espanha, os fatos políticos interferiram de uma forma ou de outra no futebol de Barcelona e Real Madrid. Em 1925, o clube catalão foi fechado por seis meses depois de vaias de sua torcida ao hino da Espanha. Porém, foi na Guerra Civil Espanhola que o conflito político foi absorvido pelo futebol. Na ocasião, o presidente do Barcelona foi assassinado por partidários do ditador Franco em Madrid. O sentimento anti Real Madrid se intensificou graças a suspeita de envolvimento do governo no setor financeiro do clube madrilenho. Num período de repressão às culturas que não fossem castelhanas, o Camp Nou (Estádio do Barcelona) ganhou ares de subversão e de reação ao governo franquista.

A Copa do Mundo de 2010, conquistada pela Espanha em caráter inédito, levantou alguns fatos interessantes. Paralelo ao feito dos espanhóis, os jornais de todo o mundo destacaram a hibridização da seleção nacional, formada por jogadores vinculados tanto ao Barcelona, quanto ao Real Madrid, além de atletas bascos. Similar ao que ocorreu na França, em 1998, que a imprensa destacou como a seleção dos “brancos, negros e árabes”. Entretanto, a sequência de clássicos marcados pela rivalidade e importância das competições preocupa o treinador da Fúria, como é chamada a seleção espanhola. Em entrevista concedida ao jornal Marca, Vicent del Bosque explicou que estava preocupado com as brigas entre os jogadores “As boas relações dentro do vestiário são a base para o nosso sucesso no futuro”, ressaltou.

A rivalidade extra - campo não é exclusiva da Espanha.
The Old Firm (Escócia) – Clássico entre Celtic, representante da Escócia Católica, e Rangers, time fundado por escoceses protestantes (anglicanos e calvinistas);
Večiti Derb (Sérvia) – “Dérbi eterno”. Os protagonistas são Partizan Belgrado e Estrela Vermelha, representantes do Exército e do Partido Comunista,respectivamente, as duas forças políticas do pós II Guerra.
East London Derby (Inglaterra) – Considerado o mais violento da Inglaterra e talvez do Reino Unido. A rivalidade de West Ham e Milwall veio antes dos clubes serem fundados por diferenças políticas históricas entre os bairros de cada um. As brigas entre as torcidas foram mostradas no filme “Hooligans”.
Roma e Lazio (Itália) – A rivalidade remonta também questões políticas. A Lazio era o time de coração de Mussolini e foi adotada por seus partidários. A Roma representava o proletariado socialista.

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