Por Paulo Júnior
O surgimento
da internet como nova mídia comunicacional trouxe inúmeras expectativas quanto
ao modelo que se estabeleceria em relação à produção e recepção de notícias a
partir daquele momento.
Os portais dos
grandes jornais permitiram, logo de início, que leitores comentassem as
matérias online de forma instantânea, o que dava oportunidade para qualquer
anônimo se expressar sobre as mesmas. Muito mais democrática que as
tradicionais sessões de Cartas dos
meios impressos, a página de comentários permitiu uma construção natural das
discussões por meio da totalidade de opiniões, sem hierarquização de
posicionamentos por parte do veículo que os hospeda¹.
Mas as redes
sociais, que estouraram a partir da segunda metade da década de 2000, são as
reais protagonistas do quesito interatividade na web. O Facebook reúne 750 milhões de usuários no mundo inteiro, cada um
com sua própria rede de amigos e informações compartilhadas. Correntes são
repassadas para milhares de indivíduos em questão de horas com poucos cliques.
Já o Twitter, microblog com postagens
de até 140 caracteres, dita assuntos em destaque e é muitas vezes ponto de
partida para apurações jornalísticas.
Por mais
superficiais que sejam a maioria das discussões nas redes sociais, tais
ferramentas ajudaram indivíduos a se organizar em torno de uma só teia de
compartilhamento, tornando a opinião do público muito mais unificada e
palpável. Diante disso pesquisadores da área comunicacional não resistem, e com
razão, estudam as implicações deste novo modelo interativo. Abordagens de
grande interesse para os articulistas são, por exemplo, a inversão do gatekeeping (não são mais os jornalistas
que hierarquizam os assuntos, mas sim o público) e a queda definitiva da dicotomia
‘emissor x receptor’.
A facilidade
que um anônimo tem de disseminar uma ideia em pouco tempo, apenas com um bom
argumento; a igualdade de recursos disponíveis para influenciar, seja o usuário
uma pessoa comum ou uma empresa multinacional; a real possibilidade de
posicionamentos individuais (ou de grupos pequenos) rapidamente se tornarem
globais. Tudo isto seria impensável até mesmo no início da internet, quando a
TV ainda era apontada como principal porta-voz da opinião da maioria.
Mas o que
pouca gente percebe destas inúmeras vantagens com que a comunicação vem sendo
presenteada é a facilidade de perpetuar opiniões irresponsáveis e, na maioria
das vezes, de senso comum. Não é difícil encontrar no mural do Facebook declarações do nível: “abaixo o
Congresso, mandem prender todos os políticos”, ou “estamos sofrendo
heterofobia, querem nos privar do direito de recusar o homossexualismo”, ou
“Globo: não penso, não existo, só assisto”.
Certo dia
estava no Facebook quando notei que a entrevista de uma jovem – conhecida por Mulher Maçã – à revista Veja
viralizava pela rede. http://www.facebook.com/photo.php?fbid=2310713399950&set=a.1379324115800.2053026.1012820442&type=1&ref=nf
As declarações da moça, hilárias de tão
ridículas, foram veiculadas na revista impressa, escaneadas e, a partir daí,
rodaram como corrente na rede. Os comentários escrachavam a Veja pelo péssimo
jornalismo ali exemplificado e também “denunciavam” as futilidades veiculadas
pela revista apenas com o fim de entreter leitores alienados. O que poucos
“intelectuais de Facebook” pareciam
perceber é que apesar de a revista acumular mil ressalvas perante a praxis jornalística, a entrevista da
Mulher Maçã não exemplificava nada neste quesito. A Veja tem uma coluna tradicional
de entrevistas irônicas com personalidades pouco sérias, coluna esta que só
ocupa 1/3 de página a cada edição.
No mês passado
estourou também na web um vídeo feito por atores da Rede Globo contra a
construção da usina de Belo Monte. http://movimentogotadagua.com.br/
Com argumentos
bem circulares e diálogo de fácil fluência, os artistas convidavam os usuários
das redes sociais a assinar uma petição que pararia as obras da hidrelétrica.
Uma rápida pesquisa na web e já era possível encontrar um monte de argumentos
desconstruindo os dados apresentados pelos artistas no vídeo, principalmente em
relação ao valor da obra, de 19 bilhões de reais, e não 30 bilhões, como dito
pelos globais.
É muito fácil
aderir a causas porque alguém “legal” falou. É muito confortável repetir
desaforos só porque nove entre dez pessoas disseram a mesma coisa. É muito
divertido compartilhar um único post com os amigos aderindo a ideais aos quais
toda a sociedade também apoia. Mas a irresponsabilidade mora na casa da
preguiça e da ignorância, lar da ausência de curiosidade e do senso crítico.
Se antes – e
até hoje – reclamamos dos impérios comunicacionais do país, com poucas famílias
“Marinho” controlando a maioria das rádios e TVs do Brasil, me parece muito
mais assustador não ter condições de enumerar nenhum culpado pela manipulação
exercida na internet, abrigando em cada caso um grupo oportunista seguido por
uma infinidade de indivíduos ditos livres caindo como patinhos.
Mais
importante do que os louros colhidos pela comunicação é a conscientização das
massas sobre a democracia. Não é um mero sistema político, nem um presente da
ditadura, nem muito menos propriedade privada dos partidos de situação. A
democracia representa a possibilidade que todos têm de buscar sozinhos os
próprios conhecimentos, formar opiniões e expressá-las de modo livre e
independente. Informarmo-nos de como fazer isso da forma mais responsável
possível deveria ser obrigação de cada brasileiro, principalmente quando o
assunto é comunicação e interatividade na internet, local tão marcado pela
presença do povo.
¹ A maioria
dos veículos estabelece uma política de aprovação dos comentários baseando-se
na adequação do conteúdo opinativo ao contexto da matéria, à lei e à uma
linguagem respeitosa. Qualquer veto fora desses padrões constituiria, aí sim, censura.
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