Imagine-se que, ao chegar em casa, você encontra uma nota de cem reais
dentro de um envelope. Uma empresa da qual é cliente lhe presenteia com o
dinheiro e um bilhete dizendo: “Parabéns consumidor, você merece essa
premiação!“. É tão inacreditável quanto a união de mais de uma dúzia de atores
globais na produção de um vídeo para a defesa de uma causa ambiental. Lembra o
velho ditado que diz que “quando a esmola é demais o santo desconfia”. Por
isso, inúmeros internautas ficaram desconfiados depois que É a gota d’água +10
foi divulgado. Um vídeo como este precisa de roteiro, preparação, ensaio. Dá
muito trabalho e exige uma equipe preparada. Houve um grande investimento na
construção dessa campanha para lucro nenhum?
A construção da usina de Belo Monte tornou-se uma
polêmica evidente desde 2010, quando o Ministério do Meio Ambiente concedeu a
licença ambiental prévia para o início das obras. Até James Cameron – diretor
de Titanic e Avatar – veio ao Brasil para posicionar-se contra o projeto da
hidrelétrica. Todo esse alvoroço é por conta da enorme devastação ambiental que
a obra causará na Floresta Amazônica, Rio Xingu, além da população que vive em
torno dele – a maioria índios pertencentes ao Parque Indígena do Xingu.
Assim que o vídeo É a gota d’água +10 passou a
circular, em menos de dois dias os internautas o colocaram nos Trending Topics
do Twitter. Paralelamente, veio o estranhamento dos mais críticos e céticos com
relação às intenções por trás do vídeo. Por que aquela quantidade de atores,
todos da Rede Globo, se mobilizaram pela causa de Belo Monte? O que faria com
que uma equipe de profissionais famosos se unisse de forma tão organizada? A
troco de quê? Com que finalidade?
Existe um interesse por trás da mobilização que
gerou o vídeo. Atingir o governo? Não sei. Alguém elaborou o roteiro, outro
dirigiu e os artistas cederam sua imagem por um movimento importante. Pois bem,
não sou idiota para não ter percebido tudo isto. Mas também não sou boba o
suficiente para ignorar e discriminar um vídeo que defende uma causa pela qual
também sou a favor. Se forem colocar tudo em uma balança, há muito mais
interesse, corrupção e hipocrisia envolvendo a construção da hidrelétrica do
que o vídeo. Por isso, apesar das especulações, o divulguei para mais de dez amigos
e ainda assinei a petição. A causa que defendo é nobre demais para ser
comprometida por tão pouco. É a gota d’água +10 tem sido a melhor forma de
convencer os menos engajados a aderir ao movimento contra a usina de Belo
Monte.
Parabéns pelo texto, Camila. De todos os seus que eu li no blog, esse foi o que eu achei mais bem posicionado e crítico.
Entretanto, eu colocaria mais algumas questões, além do fato de serem atores da globo. A própria repercursão do assunto Belo Monte é dúbia.
De repente vemos inúmeras celebridades nacionais e internacionais se manifestando contra a usina. O caso de James Cameron é ainda mais curioso pois, até onde eu sei, ele não é conhecido por ser grande defensor de causas ambientais. Por que defender especificamente essa?
É claro que estamos em um momento onde o movimento ambientalista é muito forte, mas como você mesma colocou, quando a esmola é muita o santo desconfia.
Citando novamente a globo, na última sexta-feira tivemos um globo repórter inteiro sobre as belezas que vão ser destruídas após a construção da barragem. Com certeza o programa foi muito mais caro e trabalhoso que o vídeo com os atores. Só para atingir o governo? Penso que não, embora isso seja uma consequência desejável. Existem maneiras sabidamente mais baratas e eficientes de atingir o governo federal.
A construção dessa usina é um Belo Monte de interesses sim, como você diz, mas eles não se limitam a quem constrói, também são por parte de quem defende a não construção. Eu considero um tanto reducionista e ingenua a crença de que eles estão ligados apenas a ser oposição ou a ser a favor do meio ambiente.
Existem muitas coisas a se pensar em relação a esse assunto. Mais do que podemos imaginar.
Muito obrigada, Jéssica! Que bom que te agradou (: Olha... Hoje, eu estava conversando com meu amigo Sette e ele falou algo lógico sobre James Cameron. A época em que o Ministério do Meio Ambiente autorizou a construção da usina, coincidiu com o período de divulgação do filme "Avatar". O diretor, estava muito preocupado em emplacar o longa como o campeão de bilheterias e, em meio a isso, se posicionou como um defensor da natureza, afinal, segundo ele, era sobre isso que o filme tratava. A Belo Monte foi a grande oportunidade de se promover, já que envolvia a Amazônia. A Floresta foi transformada em um simples instrumento de um discursozinho político, mas de interesse puramente comercial. Agora, pra mim, o envolvimento da Globo (indiretamente) é, de fato, um grande mistério. Cheguei a ouvir ontem, conversando com outro amigo, que a usina tinha o investimento da emissora, mas que, de uns tempos para cá, esse apoio foi tirado e a Globo se posicionou contra tudo o que ela vinha defendendo. Eu não tenho ideia do que está por trás. Realmente, existem muitas coisas a se pensar em relação a esse assunto. Mas a verdade é que, mais uma vez, a Amazônia é apenas um meio para se conseguir um objetivo de cunho econômico.
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Parabéns pelo texto, Camila. De todos os seus que eu li no blog, esse foi o que eu achei mais bem posicionado e crítico.
Entretanto, eu colocaria mais algumas questões, além do fato de serem atores da globo. A própria repercursão do assunto Belo Monte é dúbia.
De repente vemos inúmeras celebridades nacionais e internacionais se manifestando contra a usina. O caso de James Cameron é ainda mais curioso pois, até onde eu sei, ele não é conhecido por ser grande defensor de causas ambientais. Por que defender especificamente essa?
É claro que estamos em um momento onde o movimento ambientalista é muito forte, mas como você mesma colocou, quando a esmola é muita o santo desconfia.
Citando novamente a globo, na última sexta-feira tivemos um globo repórter inteiro sobre as belezas que vão ser destruídas após a construção da barragem. Com certeza o programa foi muito mais caro e trabalhoso que o vídeo com os atores. Só para atingir o governo? Penso que não, embora isso seja uma consequência desejável. Existem maneiras sabidamente mais baratas e eficientes de atingir o governo federal.
A construção dessa usina é um Belo Monte de interesses sim, como você diz, mas eles não se limitam a quem constrói, também são por parte de quem defende a não construção. Eu considero um tanto reducionista e ingenua a crença de que eles estão ligados apenas a ser oposição ou a ser a favor do meio ambiente.
Existem muitas coisas a se pensar em relação a esse assunto. Mais do que podemos imaginar.
Muito obrigada, Jéssica! Que bom que te agradou (:
Olha... Hoje, eu estava conversando com meu amigo Sette e ele falou algo lógico sobre James Cameron. A época em que o Ministério do Meio Ambiente autorizou a construção da usina, coincidiu com o período de divulgação do filme "Avatar". O diretor, estava muito preocupado em emplacar o longa como o campeão de bilheterias e, em meio a isso, se posicionou como um defensor da natureza, afinal, segundo ele, era sobre isso que o filme tratava. A Belo Monte foi a grande oportunidade de se promover, já que envolvia a Amazônia. A Floresta foi transformada em um simples instrumento de um discursozinho político, mas de interesse puramente comercial.
Agora, pra mim, o envolvimento da Globo (indiretamente) é, de fato, um grande mistério. Cheguei a ouvir ontem, conversando com outro amigo, que a usina tinha o investimento da emissora, mas que, de uns tempos para cá, esse apoio foi tirado e a Globo se posicionou contra tudo o que ela vinha defendendo. Eu não tenho ideia do que está por trás. Realmente, existem muitas coisas a se pensar em relação a esse assunto. Mas a verdade é que, mais uma vez, a Amazônia é apenas um meio para se conseguir um objetivo de cunho econômico.
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