Por Paulo Vitor e Lis
Cappi`
No dia 02 de abril, o grupo radical islâmico Al-Shabaab atacou a
Universidade de Garissa, no Quênia. No atentado, um grupo de atiradores entrou
na universidade disparando balas e explosivos indiscriminadamente. A invasão
feita pelo grupo matou 148 estudantes. O ataque foi o segundo mais violento no
Quênia, ficando atrás apenas do que foi executado pela Al-Qaeda em 1998 contra
a embaixada americana, no qual 213 pessoas morreram.
Pouca atenção foi dada ao recente massacre,
diferentemente do enfoque dado ao ataque à redação do jornal francês de Charlie
Hebdo, que aconteceu em 07 de janeiro deste ano e causou a morte de 12 pessoas.
Na ocasião, houve uma extrema cobertura mediática, além de diversas ações de
pessoas das mais diferentes partes do mundo, como passeatas e campanhas
virtuais.
Sem tirar o mérito do apoio dado a Charlie Hebdo, mas, qual seriam
os motivos da ação mediática ter sido tão diferente nos dois casos? O que pode
ter levado as pessoas agirem de maneiras tão diferentes em situações, em tese,
parecidas? A imprensa anglo-saxã também trás questionamentos como esses, e fala
sobre a "hierarquia de morte", isto é, o fato de algumas vítimas
receberem uma maior cobertura que outras, principalmente em notícias
internacionais.
Algumas justificativas comuns a essas perguntas são as notícias
serem relacionadas à proximidade, isto é, o público ter um maior interesse em
acontecimentos que ocorrem no próprio país e em países próximos, não só
geograficamente, mais também no vínculo que temos com eles, ademais, na
qualidade de informação, com a prerrogativa de que em determinados países há
mais acesso à informação e correspondentes internacionais/enviados especiais
"fixos".
Em 1965, na obra A estrutura do noticiário estrangeiro: a
apresentação das crises do Congo, Chipre em quatro jornais estrangeiros, Johan Galtung
e Mari Holmboe Runge, ao se perguntarem como os acontecimentos se transformam
em notícias, chegaram as doze valores-notícia: freqüência, amplitude, clareza
ou falta de ambiguidade, relevância, conformidade, imprevisão, continuidade,
referência a pessoas e nações de elite, composição, personificação e
negativismo.
O valor-notícia
frequência, comparando o caso Charlie Hebdo com o da Universidade africana, se
mostra claro no seguinte dado do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (UNODC), divulgados em 2012: enquanto a África tem um taxa de homicídio
de 12,5 por 100 mil habitantes, a Europa possui apenas 3 homicídios por 100
pessoas.. Ou seja, a violência está tão exacerbada no continente africano que
se tornou algo banal, indiferente a nós e a grande mídia. O valor-notícia relevância
pode ser explicado pela pouca importância que o Quênia tem na imprensa, na
comunidade internacional e no cenário econômico. Para se ter uma ideia só o PIB
(Produto Interno Bruto) da capital francesa Paris é de 813,4 bilhões de
dólares, e o o PIB do Quênia é de 55,24 bilhões de dólares.
O Jornal Nacional, da Rede Globo, telejornal de maior
audiência no Brasil, no dia do ataque ao jornal satírico reservou 19 minutos e
23 segundos de reportagens sobre o assunto. Por outro lado, no dia do atentado
à Universidade no Quênia, foi ao ar apenas uma reportagem sobre o caso de
apenas 02 minutos e 36 segundos.
A grande mídia, muitas às vezes, não desempenha o papel
de dar voz àqueles que mais necessitam. Os comunicadores deveriam tratar de
temas mais relevantes com mais profundidade, dedicar mais páginas de jornais e
revistas e mais tempo na televisão e no rádio. Dessa maneira, a imprensa
criaria mais discussões acerca de temas que acabam sendo esquecidos ou até nunca
vistos por grande parte das pessoas.
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