7 de jun. de 2009

O engenho da palavra

Ainda sob a temática do Jornalismo Literário, após vermos do que se trata, falemos um pouco sobre alguns dos grandes nomes deste estilo.

A Oficina de Jornalismo Literário Outra Pauta elaborou uma relação de alguns dos jornalistas-autores que ajudaram a construir uma imagem outra para a profissão de repórter. Obviamente a lista não se pretende exaustiva – ela é apenas uma introdução a alguns dos principais nomes do jornalismo literário.

Truman Capote
Famoso e freqüentador das altas rodas da sociedade nova-iorquina, Truman Capote é quem inaugurou o New Journalism com A Sangue Frio (In Cold Blood). Prodígio e precoce, Capote escrevia disciplinadamente por no mínimo três horas por dia desde os 11 anos de idade. Outra dado peculiar sobre sua personalidade era a capacidade aguçada de memorizar diálogos. Ingressou muito cedo no jornalismo. Com apenas 17 anos Capote já publicava suas matérias na Harper’s Bazaar. Sua fama vem com a ficção Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo), que mais tarde será adaptado para o cinema impulsionando a fama de seu autor. Numa manhã de novembro de 1959 Capote se depara com uma nota sobre o assassinato de uma família inteira no interior do Kansas. Ao se deslocar para as paisagens desoladas das plantações do Kansas, Capote vai produzir durante os próximos 5 anos um trabalho jornalístico exaustivo na investigação da chacina. O resultado é In Cold Blood – livro-reportagem publicado em quatro partes pela New Yorker e que vai dar origem ao estilo da prosa de não-ficção mais tarde batizada por Tom Wolfe de New Journalism.

Hunter Thompson
De longe a figura mais instigante, irreverente e encantadora de toda a aventura do New Journalism. Hunter Thompson foi a própria contracultura traduzida numa forma de escrita absolutamente livre no jornalismo. Thompson foi o criador do chamado Gonzo Journalism – um estilo de jornalismo que se constitui por negar qualquer forma pré-definida do que possa vir a ser considerado como jornalismo. O Gonzo Journalism é a subversão total das convenções jornalíticas. O repórter tem liberdade absoluta de se incluir no próprio relato e também de abrir digressões labirínticas em qualquer direção. Tudo isto é possível desde que se tenha o gênio de Hunter Thompson para encontrar numa corrida de cavalos no Kentucky material suficiente para compor um retrato da decadência da sociedade do sul dos EUA. Depois desta primeira reportagem, a revista Rolling Stone o contratou para uma série de reportagens sobre gangues de motoqueiros. A experiência produziu duas coisas, em primeiro lugar a coletânea dessas reportagens deu origem ao livro “Hell”s Angels – Uma Estranha e Terrível Saga” – no qual Thompson escreve num estilo típico do New Journalism. Em segundo lugar a reportagem resultou numa série de hematomas e machucados decorrentes da surra que Thompson levou quando alguns integrantes da gangue começaram a discordar da publicidade que as matérias estavam projetando sobre os motoqueiros por todo o país. Em seguida Thompson vai lançar Fear na Loathing in Las Vegas (traduzido na edição brasileira por Las Vegas na Cabeça) – seu livro-reportagem mais conhecido e adaptado já na década de 90 para as telas de cinema sob a batuta do diretor Terry Gillian. O pai do Gonzo Journalism suicidou-se em fevereiro de 2005 depois de uma série de cirurgias na região da bacia e que não conseguiram eliminar as fortes dores que vinha enfrentando já há alguns anos. Em função dessa dores Thompson tinha um jeito muito particular de caminhar e que acabou marcando suas últimas aparições em público. Além de Hell’s Angels, Medo e Delírio em Las Vegas, também foram lançados no Brasil seus A Grande Caçada aos Tubarões, Rum Diary – O Diário de um Jornalista Bêbado e Screw Jack.

Gay Talese
Outro grande nome gerado pelas experiências estilísticas do New Journalism é, sem dúvida, o desse ex-aluno do curso de Jornalismo da Universidade do Alabama. Talese começou ainda na década de 50 como redator na sessão de obituários do New York Times. Eventualmente conseguia publicar algumas reportagens ainda sem assiná-las, como a que fez sobre o aniversário da Times Square, ao entrevistar o responsável pela projeção dos letreiros eletrônicos com as manchetes dos jornais que existia na famosa praça de Nova York. Hoje Talese é professor de jornalismo na Universidade do Sul da Califórnia. Seu artigo mais importante foi o que escreveu sobre Frank Sinatra, no qual narra as dificuldades em conseguir uma entrevista com o cantor. A reportagem com o título de Frank Sinatra Está Resfriado é uma síntese das principais técnicas empregadas pelos novos jornalistas. Um dos artifícios mais característicos de Talese são as cenas in medias res, expressão que em latim significa “no meio das coisas”. Abre-se uma narrativa inserindo o leitor diretamente para dentro da ação e, aos poucos, a narrativa passa a desvelar os significados que tornam possível sua compreensão num nível mais aprofundado.

Outros nomes importantes são: Tom Wolfe, Norman Mailer, Stephen Crane, Susan Sontag, Raymond Mungo, IF. Stone e Michael Herr.

Texto do Prof. Dr. Silvio Demétrio extraído de http://outrapauta.wordpress.com/jornalismo-literario/ (com alterações).

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