14 de abr. de 2011

Equívocos, abusos e a cobertura de tragédias.

A mídia, novamente, se depara com seus limites expostos. Notícia ou espetáculo? Resta a dúvida, ou melhor, sobram olhares vazios de crítica, compromisso; cheios de preconceitos e sedentos por audiência. É este o perfil das coberturas de tragédias. E parece não haver limites quando o objetivo é ganhar mais público. Nem a dor das famílias, nem a inocência dos atingidos. Nada é capaz de frear a ganância dos meios de comunicação.

A tragédia ocorrida na escola do Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, é alvo certo  destes profissionais. E são eles os que, por vezes, confundem os limites entre o que realmente o público deve saber e o que é desnecessário. Na cobertura do caso citado, Carlos Brickmann, em artigo para o Observatório da Imprensa, notou em alguns momentos a manifestação contra ateus, homossexuais, soropositivos, nerds, muçulmanos fundamentalistas e pastores evangélicos que teriam influenciado o assassino com seu fundamentalismo bíblico. O que evidencia o despreparo para analisar de forma clara e coerente tais acontecimento. 
Outra característica marcante desses eventos é que a história possui apenas um lado. Pois, não há discussão acerca da sociedade imagética, a influência negativa de tanta exposição e como a tecnologia trás a solidão em seu encalço. Fatores estes determinantes para o agravamento de doenças sociais, como a depressão que, aliás, é característica fundamental dos envolvidos nesses episódios. Não comentam, ainda, a superexposição de todos à violência e a banalização destes conteúdos. E ainda dizem que não esperavam algo parecido.


Ou são ingênuos ou agem de má fé. Pois, como não viver refém do medo em uma sociedade que tem esse elemento como base para o entretenimento e para várias outras ações cotidianas como jornais, por exemplo. Não é necessário portanto ficar preso a esse exemplo. Em junho de 2000, também no Rio de Janeiro aconteceu uma cena pública de violência. O protagonista, Sandro Barbosa do nascimento, uma vítima da exclusão social e da violência que marcou a sua vida cumpriu uma promessa feita à sua mãe adotiva. Ele queria ser alguém na vida, queria aparecer na televisão. E o fez. Naquele ano o país assistiu ao seqüestro do ônibus 174, que terminou na morte de duas pessoas.

Ao lembrar-se de casos como este é impossível não questionar que sociedade é esta, pautada na mídia e no sensacionalismo, que desperta naqueles excluídos da vivência social uma vontade de se sentirem inseridos e importantes, mesmo que o preço seja a vida de inocentes ou até mesmo a sua.

Por fim, nota-se a necessidade de repensar a cobertura jornalística, a apuração e a forma como o jornalista lida com o fato, pois é claro o despreparo em entender realidades distintas e complexas.



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