É altamente perceptível a dificuldade encontrada por alguns jornalistas (sem generalizar o comportamento) em seguir certos princípios éticos e, diversas vezes, morais. Na busca incessante por um “furo” e por reconhecimento, atropelam barreiras legais ou humanitárias, ignorando os direitos e as particularidades da fonte, do público ou de qualquer outro envolvido com sua matéria.
Não é muito difícil encontrar exemplos a respeito dessas questões, basta folhear algumas páginas de qualquer jornal ou assistir a um noticiário de televisão. Câmeras escondidas denunciam redes de corrupção; telefones grampeados revelam fraudes em processos políticos; fotos exclusivas demonstram vida íntima de celebridades. As justificativas são uníssonas: “Estamos prestando um bem à sociedade, pois transmitimos a ela informações relevantes sobre o que acontece no país e no mundo. Este é o dever do jornalismo”. Com tais alegações, o jornalista sente-se bem, com a sensação de dever cumprido, com a consciência limpa. E tudo realmente fica bem, já que a sociedade aplaude o gesto e adota aquelas informações como verdade absoluta.
Devido a esses fatos, é preciso refletir acerca das formas de obtenção de informações. Até que ponto é aceitável utilizar-se do clichê “os fins justificam os meios”? Conseguir uma boa matéria deve significar ter-se apurado convenientemente uma informação obtida por meios legais e éticos (o que nem sempre quer dizer a mesma coisa). Não há um consenso quanto à estipulação de limites para se alcançar uma reportagem interessante. Disfarçar-se de dependente químico comprando drogas, com uma câmera escondida, a fim de se conhecer os detalhes do tráfico e dos pontos de venda de tóxicos pode ser considerado legítimo por muitos. Porém é aberta uma discussão sobre o fato de terem sido utilizados métodos criminosos para apontar um crime.
Não é necessário ir tão longe. Até mesmo uma entrevista concedida por telefone pode gerar polêmica. Muitas vezes o repórter esquece-se de avisar ao entrevistado que está gravando a conversa, ou faz isso propositadamente. A gravação pode servir apenas de auxílio à memória daquele, mas, em último caso, também é arma potente contra a possibilidade de o entrevistado negar suas próprias palavras após sua publicação. Sabendo da gravação, há chances consideráveis, e justas, dele mover um processo contra o entrevistador, caso sinta-se ameaçado por seu conteúdo.
A discussão parece interminável. O fato é que, por mais simples e rápidas pareçam ser aquelas maneiras de se obterem determinadas informações, não há nada mais confiável e eficiente que uma boa apuração dos fatos, com cruzamento de dados, questionamento de diversas fontes e clareza na declaração dos objetivos da matéria. O real compromisso do jornalista deve ser com a verdade e seus interesses devem girar em torno dela, sempre valorizando a qualidade pautada pela ética.
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