10 de set. de 2008

Nossos heróis distantes

Ele nasceu com má-formação congênita nos dois braços e na perna direita. Até meados de seus dezesseis anos nunca havia cogitado ser um atleta, e hoje é o maior medalista brasileiro nesta edição dos Jogos Paraolímpicos. Falo de Daniel Dias, atleta brasileiro que já conquistou três medalhas de ouro nestes jogos e hoje pela manhã conquistou sua primeira prata.

Daniel começou no esporte incentivado por seu pai, que acreditava ser este o caminho para integrá-lo melhor à sociedade e dar mais ânimo para que ele enfrentasse as dificuldades do dia-a-dia. O nadador começou seus treinamentos na Associação Desportiva para Deficientes (ADD), em São Paulo. Depois passou a representar a Associação para Integração Esportiva do Deficiente Físico (CIEDEF), em Bragança Paulista há uma hora e meia de sua casa que ele percorria todos os dias de ônibus. Seu início de carreira já foi marcado por vitórias importantes. Hoje, aos 20 anos ele realiza seu sonho maior nas Olímpiadas.

Escrevo sobre ele aqui para mostrar minha admiração por alguém que teria todos os motivos para desistir de tudo, mas que resolveu lutar com garra até o fim, e chegar onde chegou. Escrevo também para questionar o porque não é dado tanta atenção a ele, e aos outros atletas, dos Jogos Paraolímpicos na mídia. Tanto na tv (um pouco mais) quanto nos jornais, os atletas são apenas citados, para não passar em branco (essa é a minha impressão). O problema não está somente no escasso espaço utilizado, mas também na forma como se produzem essas notícias, que na maioria das vezes são pequenos informes, sem uma análise maior e mais consistente. Cadê aquela cobertura pomposa que se fez há pouco tempo? Eles não merecem a mesma atenção e espaço na mídia? O Brasil está hoje em sétimo lugar no quadro de medalhas, ou seja, estamos sendo muito melhor representados por eles. Não desmerecendo, é claro, os atletas da primeira competição.
As Paraolimpíadas sempre foram consideradas como um evento secundário dos Jogos. Desde seu início em 1960, nas Olimpíadas de Roma, os Jogos Paraolímpicos ficam em segundo plano. Mas porque não dar mais tempo no jornal? Porque não fazer mais entrevistas? Acredito que eles tenham histórias fantásticas de vida e superação, que talvez servissem para nos dar mais ânimo, mais coragem frente a todos os nossos problemas cotidianos. E não só isso, um maior enfoque sobre esses atletas serviria também para ajudar a acabar com preconceitos que eles e todos os demais deficientes do nosso país sofrem diariamente.

Deixo aqui esta minha inquietação frente a cobertura desses Jogos, que possuem heróis de verdade, que ultrapassam todas as barreiras, iclusive as suas próprias limitações.

Daniel Dias comemora sua primeira medalha de ouro na prova dos 100m livre, categoria S5, com o tempo de 1m11s05, no dia 07. "Vou poder escutar o hino nacional no dia 7 de setembro, mesmo na China.", disse todo orgulhoso.


Texto por Mariana Haubert, uma das "veteranas" do SOS Imprensa, 4º semestre de Jornalismo na UnB.

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