Por Aghata Gontijo
A tragédia tomou um espaço tímido entre algumas matérias
curiosas pelo fato de Anna ter feito isso em função de conseguir uma selfie.
Definida pelo próprio Mirror como “selfie-obsessed teenage
girl” (adolescente obcecada por selfies) Anna me fez pensar - confesso que não
só por mim, valeu sos - sobre a matéria
além da tragédia. Obviamente essa morte não foi parar em uma página com direito
a manchete e tudo mais unicamente por ser uma tragédia.
O jogo está em uma palavra, e sua importância real bem longe
de Anna, ou da sua amiga ou do trem.
O fato de ter tentando documentar uma ação perigosa para,
segundo sua amiga registrar uma “selfie-definitiva” o que quer que isso queira
dizer - pois eu me recuso a reconhecer o
caráter mórbido dessa denominação - foi a queda e de certa forma a ascensão de
Anna.
Permita-me esclarecer para que eu mesma não me torne
demasiadamente macabra. Subir em um trem com uma amiga e acabar morta por uma
fatalidade provável, levando em conta o risco da ação, não teria grande
probabilidade - e isso eu digo embasada em minhas aulas sobre valor-notícia e
outros miúdos jornalísticos - de aparecer na seção Tecnologias e Games do G1,
já que provavelmente o acontecimento nem seria publicado porque a cena em si
não é noticia. Duas adolescentes colocam sua vida em risco. Se eu adicionasse
até mesmo que ambas o fizeram para mostrar o feito aos amigos, adivinhem: Ainda
não.
Mas a palavra selfie é uma palavra chave para o momento. Ela
é o momento.
Quando as pessoas oferecem seu arroba antes mesmo de oferecer o próprio nome, e lotam uma rede
social especializada em fotos de si mesmas, o mundo parece se dividir em
idolatria e demonização. Quase como com os profetas, as selfies têm seus fiéis
seguidores e seus perseguidores. É uma entidade moderna, com nome, espaço
próprio e um valor notícia maior do que o de muitas celebridades por aí, até
mesmo que o da famigerada morte.
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