8 de mai. de 2015

Se você conseguiu ler isso, agradeça um professor (ou tire uma 'selfie')



Por Carolina Nascimento

                Na moderna época tecnológica, de rápidas e imprevisíveis mudanças, quem posta a selfie - ou autorretrato - primeiro é rei. Acordou? Selfie. Está fazendo um solzão? Selfie. Vai comer arroz no almoço? Selfie. Foi ao banheiro? Selfie. A vó ficou doente? Selfie. O partido político a que me oponho está na TV? Vídeo de selfie batendo panela bem altão. O professor foi espancado, atacado com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha? Self... Espera, aí não.
                Por mais arbitrário que isso possa parecer, não é. Da mesma forma que a grande mídia em seu oligopólio seleciona e hierarquiza quais e como os acontecimentos serão divulgados, a massa consumidora de tal entretenimento é guiada para o mesmo caminho em total leniência, quase que inconscientemente.
            Para quem já se esqueceu (como disse, estamos na época de efemeridades), no dia 29/04/2015, em ato contra o projeto do governo estadual para mudar a forma de custear a ParanaPrevidencia, mais de 200 professores e manifestantes ficaram feridos após ataque com incessantes bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha da polícia militar. Mas nenhum “pau-de-selfie” foi esticado para tirar uma foto com o corpo ferido do professor deitado no asfalto quente.
                Por outro lado, no dia 05/05/2015, o evento “panelaço” contagiou as redes e a grande mídia. Então qual é o mecanismo que explica a veiculação em rede nacional e em horário nobre de vídeos amadores do som estridente de algumas panelas do alto de aquecidos lares e o abafamento do massacre vivenciado pelos professores da rede de ensino público do Paraná?        
                O esforço de tal reflexão me faz conjeturar hipóteses com base em três recentes matérias: [1] o lançamento do mais novo aplicativo iPanelaço, em que o manifestante pode escolher entre 6 diferentes sons de panela e assim não precisa amaçar a caçarola. [2] a iniciativa da revista Veja de criar o seu próprio panelaço virtual; e [3] a empresária paulista lançando sua linha de camisetas pró-impeachment. Bem, continuemos refletindo enquanto esperamos o próximo aplicativo “iProfessor” ser lançado.                                                                 

[3] http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2015/05/1624649-empresaria-que-ficou-nua-em-protesto-lanca-linha-de-camisetas-pro-impeachment.shtml

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