Por
Carolina Nascimento
Na moderna época tecnológica, de
rápidas e imprevisíveis mudanças, quem posta a selfie - ou autorretrato -
primeiro é rei. Acordou? Selfie. Está fazendo um solzão? Selfie. Vai comer
arroz no almoço? Selfie. Foi ao banheiro? Selfie. A vó ficou doente? Selfie. O
partido político a que me oponho está na TV? Vídeo de selfie batendo panela bem
altão. O professor foi espancado, atacado com bombas de gás lacrimogênio e
balas de borracha? Self... Espera, aí não.
Por mais arbitrário que isso
possa parecer, não é. Da mesma forma que a grande mídia em seu oligopólio
seleciona e hierarquiza quais e como os acontecimentos serão divulgados, a
massa consumidora de tal entretenimento é guiada para o mesmo caminho em total
leniência, quase que inconscientemente.
Para quem já se esqueceu (como
disse, estamos na época de efemeridades), no dia 29/04/2015, em ato contra o
projeto do governo estadual para mudar a forma de custear a ParanaPrevidencia,
mais de 200 professores e manifestantes ficaram feridos após ataque com incessantes
bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha da polícia militar. Mas nenhum
“pau-de-selfie” foi esticado para tirar uma foto com o corpo ferido do
professor deitado no asfalto quente.
Por outro lado, no dia
05/05/2015, o evento “panelaço” contagiou as redes e a grande mídia. Então qual
é o mecanismo que explica a veiculação em rede nacional e em horário nobre de
vídeos amadores do som estridente de algumas panelas do alto de aquecidos lares
e o abafamento do massacre vivenciado pelos professores da rede de ensino
público do Paraná?
O esforço de tal reflexão me faz
conjeturar hipóteses com base em três recentes matérias: [1] o lançamento do
mais novo aplicativo iPanelaço, em que o manifestante pode escolher entre 6
diferentes sons de panela e assim não precisa amaçar a caçarola. [2] a
iniciativa da revista Veja de criar o seu próprio panelaço virtual; e [3] a
empresária paulista lançando sua linha de camisetas pró-impeachment. Bem, continuemos refletindo enquanto esperamos o próximo aplicativo “iProfessor” ser lançado.
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