23 de dez. de 2008

Um outro jornalismo é possível - No Pará

Nem só de açaí e maniçoba é feito o Pará. O estado que em pouco mais de um mês irá receber o Fórum Social Mundial é também lar e objeto de análise de Lúcio Flávio Pinto.

Na 6a série, alguns amigos e eu tentávamos criar um grêmio estudantil em nossa escola, abrigo da tradicional elite belemense. Uma das atividades propostas foi um ciclo de palestras - que começou e terminou em um só convidado. Ele mesmo.

Estávamos em família na deliciosa pizzaria Xica da Silva, quando meu pai falou: "Olha, Mel, o Lúcio é um bom convidado pra você levar no Ipiranga". Tomei coragem e despejei o convite feito uma metralhadora. Muito educado, duas semanas depois lá estava ele, anunciando em pleno ano 2000 aos pré-adolescentes a 3a guerra mundial.

Grande defensor da Amazônia, dos direitos humanos e de um jornalismo ético e comprometido, Lúcio Flávio Pinto publica quinzenalmente o Jornal Pessoal, produção individual sem apoio publicitário, que sobrevive apenas com suas vendas avulsas.

Em uma cidade onde a grande mídia impressa - a saber "O Diário do Pará", de Jader Barbalho; e "O Liberal" da família Maiorana e afiliada da Rede Globo no Pará - está sempre às voltas com interesses políticos e comerciais, a única limitação do Jornal Pessoal é "a capacidade de se informar e de transmitir informações do seu redator solitário", pois lá só se tem "rabo preso com o leitor".

Hoje mesmo ganhei de minha tia avó a edição da primeira quinzena de dezembro, e coloco aqui a reportagem de capa, sobre os limites éticos do fotojornalismo. No texto são abordadas questões como o abuso da imagem e o diferente tratamento conferido de acordo com a classe social em que se encontra o abusado. Um bom complemento para essa discussão está na leitura do texto "A insustentável leveza do clique fotográfico" de Ana Flávia Sípoli.

Boa Leitura!



Fim da sangria diária?
Por Lúcio Flávio Pinto*

A escandalosa cobertura dada aos crimes pelos dois maiores grupos de comunicação do Pará provocou, finalmente, uma reação. A partir da ação proposta pelo Estado contra os abusos do noticiário, é possível que se estabeleça um padrão mais aceitável. A inércia anterior era o pior. Mas ainda falta muito para se chegar ao melhor.


O Estado do Pará, através da sua Procuradoria Geral, propôs, no dia 11, uma ação civil pública no fórum de Belém. Apesar de seu caráter de ineditismo e da sua importância, a grande imprensa a ignorou. O motivo é simples: o objetivo da iniciativa é impedir que os jornais Diário do Pará, de propriedade do deputado federal Jader Barbalho, e O Liberal e Amazônia Jornal, da família Maiorana, continuem a divulgar “fotos/imagens de pessoas vítimas de acidentes e/ou de mortes brutais e demais imagens que não se coadunem com a preservação da dignidade da pessoa humana e do respeito aos mortos”.
Argumenta a ação que essas fotos e imagens são utilizadas “de forma inadequada e lesiva aos direitos constitucionais da pessoa humana, das crianças e dos adolescentes, e aos valores éticos e sociais da família”. A petição foi assinada também por duas organizações da sociedade civil: o Movimento República de Emaús, fundado pelo padre Bruno Secchi, e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. Apenas um dos jornais diários, o Público, que começou a circular em Belém há menos de dois meses, não foi incluído na ação. Mas também não a noticiou.
A ação civil pública considera que os três diários vêm dando “excessivo e desnecessário destaque a imagens chocantes e brutais, sem qualquer conteúdo jornalístico, mas com intuito meramente comercial, banalizando o ser humano a ponto de tratá-lo como instrumento de aumento da vendagem de jornais, o que atenta contra diversos princípios constitucionais, especialmente a dignidade da pessoa humana”.
O principal objetivo dos autores é a “readequação das notícias e fotos/imagens publicadas nos jornais impressos, de forma que seja respeitada a personalidade e a dignidade dos seres humanos que são ‘fotografados’ e exibidos de forma desumana e degradante, com desnecessário destaque das imagens de mortes violentas”. A proteção se estenderia à sociedade como um todo, representada pelos leitores de todas as faixas etárias, “para que não mais sejam expostos a imagens atentatórias ao sentimento público e a relevantes valores constitucionalmente protegidos”.
O Estado alega que precisou reagir ao uso diário, na imprensa, de “imagens grotescas, sempre com forte apelo comercial”, como recurso usado pelas empresas “para vender mais jornais”. Com esse mesmo propósito, elas divulgam “imagens de cadáveres, de pessoas desfiguradas, principalmente de vítimas de acidentes de trânsito, de esfaqueamento ou de pessoas que foram linchadas nas vias públicas, muitas vezes sem nem mesmo confirmar a autenticidade das informações”.
Como exemplos são juntados exemplares do Amazônia Jornal, em cujas “capas chamativas” a publicação sempre estampa fotos de mulheres seminuas, “de forte apelo sexual e, ao lado, fotos de pessoas mortas, ou vítimas de acidentes ou mesmo de atos violentos”. Para o Estado, “o detalhe mais sórdido e cruel é que geralmente essas imagens são em close ou imagens ampliadas, o que choca muitos leitores e até mesmo transeuntes, ao passarem por bancas de jornais”. A postura editorial é a mesma de O Liberal e do Diário do Pará, observa a peça inicial da demanda.
Outro exemplo citado é a cobertura de um acidente de carro ocorrido no final das férias de julho deste ano, na estrada de Salinas, que matou oito pessoas, “sendo divulgadas em todos os jornais impressos imagens dos carros destruídos, imagens dos acidentados nos últimos momentos de vida e, o que foi mais impressionante: os jornais O Liberal e Amazônia Jornal estamparam a foto de um crânio carbonizado de uma das vítimas do acidente em questão. Por sua vez, o jornal Diário do Pará divulgou imagens em tamanho aumentado, das vítimas do acidente trajando biquínis, ao mesmo tempo em que esmiuçava detalhes sórdidos da tragédia”.
Esses são apenas dois exemplos “dentre milhares de outros”, diz a ação, que o julgador do feito poderia observar facilmente, “com a simples leitura diária dos jornais locais e, por amostragem, dos exemplares juntados aos autos”. Por isso, solicita à justiça que proíba imediatamente, através da antecipação de tutela, os jornais “de utilização e/ou divulgação de imagens/reportagens” com as características indicadas, além de obrigá-los a publicar em suas edições “textos e informações educativas sobre direitos humanos e cidadania”.
Requer ainda indenização por danos morais coletivos, cujos valores seriam revertidos ao Fundo Estadual de Direitos Difusos e Coletivos, “em virtude da exploração das imagens de seres humanos retratados em situações violentas, desumanas e degradantes, com propósito nitidamente comercial e popularesco”, que violam diversos direitos constitucionais. O juiz Marco Antônio Castelo Branco, da 2ª vara cível de Belém, para quem os autos foram distribuídos, ainda não deliberou sobre a matéria
Se condenadas, as duas empresas terão que pagar 500 mil reais de indenização por danos morais coletivos, valor a ser acrescido de juros moratórios e correção monetária a partir da citação. Para a eventualidade de descumprimento da ordem judicial, os autores pedem que seja fixada a multa de 10 mil reais por dia, para cada empresa, e por cada foto publicada. Também requereram a fixação do valor da causa, sobre o qual serão calculados os honorários advocatícios, em um milhão de reais. A ação é assinada pelo procurador geral do Estado, Ibrahim Rocha, e pelos advogados Bruno Garcia, da Emaús, e Marcelo de Freitas, da SDDH.
Nenhuma palavra nos dois jornais a respeito, exceto por uma nota na coluna de Mauro Bonna, no Diário do Pará. Ele se limitou a classificar a ação como uma tentativa de censurar a imprensa. A defesa das empresas deverá seguir essa linha de raciocínio: de que a interferência de terceiros sobre a edição do material jornalístico não é apenas indébita, mas ilegal. Viola a - só nesses momentos - sacrossanta liberdade de imprensa.
Ainda que fosse (embora não seja), os jornais receberiam um castigo merecido. Há vários meses, algumas pessoas, determinados blogs da internet e este solitário jornal vêm denunciando o tratamento hiper-sensacionalista da grande imprensa local nas suas “páginas de polícia” (literalmente). Os exemplos apresentados pela ação pública já foram tratados aqui e em outros lugares, infelizmente poucos, sem provocar a menor inibição na sangria desatada - noticiosa e visual - dos três diários da capital. Pelo contrário: eles se esmeravam em exibir corpos dilacerados, como se suas publicações se circunscrevessem ao âmbito restrito e especializado da medicina legal e a eles fosse indiferente o efeito dessa escatologia, à mostra nas bancas de jornal e apregoada pelos jornaleiros nas ruas da cidade.
Se há imperfeições ou impropriedades na ação proposta pelo Estado e as duas ONGs, é questão a debater em juízo. O pior foi a falta de iniciativa dos autores dos excessos e exageros, adotados com fins nitidamente mercantis. Diante do clamor público, eles deviam ter-se oferecido para o diálogo e o debate sobre a reportagem policial. Tentariam convencer seus opositores sobre suas razões ou, caso contrário, se ajustar a uma postura mais adequada.
Ao ignorar as críticas e solicitações, confirmaram, por via indireta, o que é evidente: o sensacionalismo como um recurso mercantil, levado ao extremo em função da disputa entre os dois maiores grupos de comunicação do Estado pelo consumidor de baixa renda. Atraído pelas histórias e imagens escabrosas, essa parcela da população se transformou em chamariz para os anúncios populares. Nesse segmento, que se tornou interessante pelas políticas sociais do governo federal, que aumentaram o poder de compra das camadas C, D e E, o Diário desbancou O Liberal. Daí o acirramento da concorrência pelo uso do noticiário policial.
A inércia geral foi interrompida pela ação judicial. Se ela é correta ou suficiente, é questão a provar. Sem dúvida, era necessária. O paroxismo sensacionalista dos três diários não tem paralelo na imprensa nacional. Nem exemplos do passado, de publicações especializadas no crime, como O Dia e Luta Democrática, no Rio de Janeiro, e Notícias Populares, em São Paulo, atingiram esse nível tão baixo. Nos dias atuais, cadáveres foram quase expurgados das páginas dos grandes jornais, que recorrem a outros expedientes, menos frontais. Um padrão como o da imprensa cotidiana de Belém não tem igual em nenhuma outra capital do país.
As duas empresas irão alegar que o caminho do inferno está repleto de boas intenções e que, a pretexto de coibir o exagero, a justiça acabará por estabelecer a censura, prévia ou posterior à prática do “crime de imprensa”, se a ação vier a ser acolhida. O risco realmente existe, mas se existe é porque os dois impérios de comunicação deixaram de lado os critérios éticos de edição do seu material jornalístico. Se os mantivessem, não teriam praticado os abusos, de forma tão acintosa e reiterada que acabou por provocar uma reação institucional, depois de ignorado o clamor social.
A cínica exibição de cadáveres contribui para que os personagens dessas histórias tristes acabem por considerar esse fato como normal. Se retrato de bacana sai nas colunas sociais, o lugar de pobre é como “presunto” nos cadernos de polícia. Não é pequeno o número de pessoas que buscam com volúpia essas páginas de sangue para ver as fotos dos mortos e identificá-los. Essa morbidez avilta individualmente e pode se transformar numa patologia social, como já está acontecendo.
Para os dois grupos, conceitos éticos em torno da pessoa humana deixaram de existir: o que conta é o efeito mercadológico dessa diretriz editorial. Mas ela só se aplica à população pobre ou àqueles que não têm vínculos políticos ou corporativos com as empresas jornalísticas. Compare-se não o noticiário sobre um cidadão qualquer, destituído de direitos para a reportagem policial, mas sobre o acidente de carro com oito moças. Elas eram da classe média, uma das quais, filha de uma senhora com acesso à principal acionista do grupo Liberal, Déa Maiorana (à qual recorreu para estancar a hemorragia jornalística, logo após a publicação no jornal da foto da cabeça carbonizada da jovem que dirigia o Astra). Mas como a história foi chocante e nela não havia componentes restritivos aos interesses comerciais da empresa, os jornais se lançaram sobre os fatos com a voragem de predadores.
Diferente foi o tratamento dispensado ao assassinato do diretor jurídico dos Supermercados Líder. A imprensa noticiou os fatos, como tinha que fazer (sob a pressão atual, já não pode simplesmente escondê-los, como reiteradas vezes aconteceu no passado). Mas foi discreta e atenciosa. Nenhuma foto frontal, apenas detalhes - e à distância. Aceitou as limitações impostas pela família, que tinha esse direito, e assim agiu certo.
Mas aceitou demais a versão oficial da polícia - e aí agiu errado, já que muitos questionamentos foram feitos a esse enredo e circulavam em vários ambientes, aos quais os jornalistas têm acesso. A cobertura desse crime deixou bem claro que os jornais podem tratar de qualquer tema com competência e sem violar os direitos individuais, desde que queiram proceder dessa maneira, jornalisticamente, prestando contas à opinião pública. O problema é que jamais se preocupam com essas normas quando no meio da trama há apenas gente do povo. Aí instala-se o circo.**
Se foi quase sempre mais ou menos assim ao longo da história da imprensa, se tornou exageradamente (e exatamente) assim (e bem pior) na imprensa do Pará. Tanto por culpa dos seus dirigentes, insensibilizados para a função social da sua empresa, como dos jornalistas. Eles se tornaram muito pressurosos em acatar as determinações superiores e relaxados ao extremo em relativizá-las pelos compromissos éticos da profissão. Jornalista cumpre ordem e ponto final. Não tem nada a ver com as decisões sobre o que vai sair ou não, e como sairá. As redações viraram um solilóquio anódino, quando não um cemitério de individualidades. Prevalece o coletivo do consentimento, a unanimidade da insensibilização, o desinteresse pelo que existe antes e depois da informação.
Quando a doença individual se torna coletiva, como acontece com a reportagem policial da imprensa diária paraense, a falta de uma ação é o pior que pode haver. Esse pior, felizmente, acabou. É a hora de cada um se interessar pela demanda e dar sua contribuição para que a situação mude - para melhor. Pior, é quase impossível.
*Lúcio Flávio Pinto é jornalista e sociólogo paraense, autor da publicação quinzenal "Jornal Pessoal - A Agenda Amazônica de Lúcio Flávio Pinto".
**Grifo meu

2 de dez. de 2008

Fotojornalista Anderson Schneider na UnB


O
Fotoclube f/508 recebe nesse sábado, 6 de dezembro, o fotojornalista independente Anderson Schneider para um bate-papo.

O fotógrafo, envolvido principalmente com a temática humanitária, tem seu trabalho internacionalmente reconhecido, e acumula prêmios e nomeações mundo afora.

A conversa será às 15h, no auditório do Instituto de Artes da UnB, e a entrada é gratuita.

No seu site estão disponíveis seus ensaios. Recomendo o "Invented City", um olhar tocante da nossa Brasília.


O que você tem a ver com a corrupção?



Confirme sua presença e participe desse debate!

27 de nov. de 2008

Que universidade você quer? Que jornalismo você espera?

Hoje teve a reunião do Colegiado de Jornalismo para homologar a proposta curricular construída conjuntamente entre professores e alunos. No entanto, ocorreram
mais mudanças que o previsto.

Inicialmente, os professores não queriam a participação de todos alunos nas discussões curriculares, restringindo-nas apenas ao CACOM. Conseguimos - de forma pacífica e através de votação - ampliá-las para todos os alunos da FAC.

Entretanto, essa ampliação não se estendeu às votações, visto que o regimento da FAC prevê apenas UM voto estudantil, por meio do CA, para as três habilitações (publicidade, jornalismo e audiovisual).

Após cerca de três meses de uma discussão que englobou não apenas créditos e disciplinas, mas o ideal de curso que defendemos para uma formação ética e cidadã dos comunicadores, os professores passaram por cima dos acordos feitos anteriormente com os alunos, e aprovaram uma proposta que nega algumas de nossas principais demandas, e instala um curso cada vez mais técnico e medíocre.

Por isso chamamos todos vocês para lutarem conosco pelo direito dos alunos à participação efetiva nas decisões dos departamentos, e por uma nova proposta de jornalismo, que só é possível através de uma mudança na formação acadêmica desses profissionais.

Que universidade você quer? Que jornalismo você espera?

Participe do ato às 9 horas, amanhã (quinta-feira) em frente ao CACOM (final da Ala Norte).

Há braços paritários, comunitários, comunicadores!!
CACOM - Centro Acadêmico de Comunicação Social

12 de nov. de 2008

Boa Noite e Boa Sorte

Nessa 5ª feira (13/11) vai rolar mais um cineclube do SOS Imprensa. É o primeiro de um conjunto de filmes sobre mídia e política: “Boa Noite e Boa Sorte” (Good Night, and Good Luck, EUA, 2005) do ator e diretor George Clooney.

Ele conta a história do programa de TV da estadunidense CBS, “See it Now” (Veja Agora), onde o jornalista Edward R. Murrow trava importante batalha pelo direito de expressão, dentro de um dos maiores veículos da grande mídia. O diretor mostra as dificuldades enfrentadas na imprensa quando o assunto é patrocínio, interesses políticos e audiência.

O filme ultrapassa o mero relato dos acontecimentos da década de 50, e pode ainda ser compreendido como uma crítica direta à própria Era Bush. Ele mostra claramente como veículos de comunicação servem muitas vezes enquanto decisivos formadores de opinião, de onde a importância de os comunicadores estarem comprometidos com a transmissão de uma informação objetiva e responsável, sem barreiras ideológicas ou comerciais.

Imperdível! Ao 12h15 na sala 613 da Faculdade de Comunicação (FAC), no final do ICC Norte.

Boa tarde e bom filme!

Ficha técnica:

» Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, 2005)
» Direção: George Clooney
» Roteiro: George Clooney, Grant Heslov
» Gênero: Drama/Histórico
» Origem: Estados Unidos
» Duração: 93 minutos
» Tipo: Longa
» Site: http://www.goodnightandgoodluck.com/
» Sinopse: Nos anos 50, a queda do político Joseph McCarthy é causada pelos embates entre ele e o âncora da rede CBS Edward R. Murrow. O senador foi responsável pela operação "Caça às Bruxas", que acusava, sem provas, cidadãos americanos a comunistas.

Para uma crítica mais completa, leia mais no Blog d'Urbano.

Acorda, espectador!

Retomando a questão do sensacionalismo na mídia, apresentada no texto E até a próxima tragédia..., da Nathália, e também abordada pelo documentário Ônibus 174, exibido no cineclube, gostaria de ressaltar algumas questões que, freqüentemente, vêm sendo confundidas pelos ditos comunicadores e pelos próprios espectadores. Questões estas que acabam por enfocar de forma negativa o jornalismo investigativo.


O caso da jovem Eloá, seqüestrada e assassinada pelo namorado, Lindemberg, além de, claro, cumprir com a atual função do noticiário policial de chocar o país, nos dá também uma sensação familiar, um certo gostinho de “já te vi”. Além da infeliz recorrência de acontecimentos como esse, o que realmente nos leva ao déjà vu é o tipo de abordagem utilizado pela mídia.


O jornalismo começa a ser confundido com entretimento de mau-gosto. O interesse público perde seu lugar para o interesse do público, que se torna cada vez mais anestesiado e alheio aos reais acontecimentos por trás das telas de TV ou entre as linhas do jornal. Os dramas policiais se tornaram as novelas da família brasileira.

O hábito e o comodismo nos levariam a culpar os meios de comunicação, editores e redatores pela forma como a notícia nos é entregue, mas sinto informar que o jornal, assim como qualquer outra instituição, depende de subsídios para se manter ativo. Os jornalistas continuam trazendo os problemas e injustiças à luz, ou aos holofotes, melhor dizendo, mas o espetáculo só acontece quando se tem platéia para financiá-lo.


Não pretendo, entretanto, desviar a imprudência completamente para os espectadores. Além da questão da dependência financeira, a pressa de se obter uma matéria antes do jornal concorrente também tem piorado a qualidade da notícia. O furo de reportagem não deveria justificar a irresponsabilidade do jornalista.


Apesar da banalização de escândalos e comercialização de tragédias, vale salientar que a imprensa foi e continua sendo uma forma extremamente eficaz de difusão de informação, e que o jornalismo investigativo também tem, teoricamente, um papel muito importante de mobilização social para aflorar a necessidade de mais discussões éticas e a tomada de consciência da população.


Quão maior for a repercussão dos exageros midiáticos, mais a demanda pelo show de horrores é levada em conta e, conseqüentemente, mais sangrentos ficam os programas e matérias. Se a situação continua rumando para a espetacularização dos casos policiais, o que tem de ser questionado não é a origem da culpa ou do problema, mas o conteúdo das notícias que são apresentadas.


Basta citar o caso do repórter investigativo Tim Lopes, cujo trabalho de averiguação de grupos que usavam drogas só caiu em amplo conhecimento após o sumiço de seu corpo. O que despertou a curiosidade pública não foi o jornalismo que ele fazia, mas a tragédia que ocorreu. Se o brasileiro está mesmo tão indignado com essa mídia de desgraças, um bom começo é levantar do conforto da poltrona, sair da segurança da acusação alheia, parar de compactuar com esse mercado de exibicionismo e cobrar a informação, o conteúdo que é seu de direito.

9 de nov. de 2008

Complementando o post anterior

Gente,
pela minha total incapacidade não consegui colocar o vídeo do discurso feito por Barack Obama logo após o resultado das eleições. Segue então o link.

http://br.youtube.com/watch?v=Jll5baCAaQU

O mundo por Barack Obama

Esta semana pudemos acompanhar um dos maiores espetáculos destes últimos anos. Em tempo real, vimos a consolidação de uma promessa. Barack Obama, eleito presidente dos Estados Unidos na última terça-feira, fez a maior campanha de todos os tempos. O mundo inteiro o acompanhou durante os últimos 21 meses. Ele soube como ninguém, usar tudo o que a mídia poderia disponibilizar, e usou a Internet como sua maior ferramenta.

Foi surpreendente a força com que a campanha presidencial tomou os meios de comunicação nos últimos meses. Em todos os cantos do mundo, a corrida à Casa Branca se fazia presente, muitas vezes como tema principal, superando as notícias internas de cada país. Na Europa e nos demais cantos do mundo, a eleição se fazia como própria de cada lugar. Aqui no Brasil, ganhou destaque extremo da mídia. Vários jornais impressos fizeram suplementos diários para cobertura da campanha e análises sobre o futuro do mundo. Na TV, o tempo destinado a esta cobertura era enorme, fazendo com que várias pautas nacionais ficassem relegadas a segundo plano, ou até mesmo fossem excluídas. Uma avalanche de informações sobre os candidatos e suas correlações nos acometeu de repente.

Mas este ano foi a Internet que se fez imprescindível. E quem melhor soube usá-la foi Barack Obama. Explorando todos os espaços possíveis e alguns até inéditos, como jogos de corrida online, Obama conseguiu atingir uma parcela da população que até então era considerada como apática às eleições, os jovens. Talvez o apelo à Internet não tenha sido a única razão para essa motivação, mas como certeza ajudou bastante.
Optando por não utilizar verba pública para sua campanha, Obama conseguiu uma arrecadação recorde, de 660 milhões de dólares. E não foram grandes doações. A população doava de US$ 5 a US$ 20. No total foram contabilizados mais de 3,1 milhões de doadores. Esses números refletem sua ampla popularidade. E não só nos Estados Unidos. Ao redor do mundo Barack Obama foi reverenciado. Na Europa, principalmente, ele era o candidato escolhido.

No momento de seu discurso, já como presidente eleito, o mundo inteiro o assistia. Sua família no Quênia, assim como o restante do país parou para ver o filho ilustre. Foi decretado, inclusive, feriado nacional, para comemorar o orgulho do povo africano, do povo irmão do presidente mais poderoso do mundo. Em território americano, todos celebravam a vitória da mudança. O mais novo presidente se tornou a personificação da vontade de romper com a velharia que se impunha na política, e conseqüentemente, nas decisões norte americanas.

Barack Obama chegou para salvar o país, e o mundo. Todos esperam que ele dê soluções para todas as crises que assolam o planeta. Através da ampla adesão da mídia, ele conseguiu vender seu discurso de mudança. Agora, o mundo que o comprou, espera os resultados. Entretanto, o próprio já tenta acalmar os ânimos, e realista (como se mostrou durante a campanha) pede calma. Mas ainda assim, não desiste da esperança. A mesma que fez com que os americanos, apoiados pelo mundo, o elegessem. “E sei que não fizeram isso por mim. Vocês o fizeram porque compreendem a enormidade da tarefa que temos pela frente. Pois enquanto estamos aqui celebrando, sabemos que os desafios que o amanhã nos trará são os maiores de nossas vidas – duas guerras, o planeta em perigo, a pior crise financeira em um século. (...) O caminho à frente será longo. Nossa subida será íngreme. Talvez não consigamos chegar lá em um ano ou mesmo em um mandato. Mas, América, eu nunca estive mais esperançoso do que estou nesta noite de que chegaremos lá.” E mais uma vez, a voz dos EUA fala pelo mundo.

Por Mariana Haubert


7 de nov. de 2008

O Cinema do SOS

Ontem foi a estréia do Cineclube do SOS Imprensa. Ele acontecerá todas as quartas e quintas, 12h15 na Faculdade de Comunicação. Dois dias para melhor atender os alunos que tem aula em um deles. A proposta do cineclube é trazer sempre uma discussão que envolva o papel da mídia na sociedade. E após a exibição do filme realizar um debate.

A primeira edição foi um sucesso, muita gente compareceu. O filme, o documentário: Ônibus 174. Queríamos colocar em debate a mídia na cobertuda de violências. Aliás, o debate já estpa lançado com o caso Eloá. E além disso, aproveitar o filme Ultima Parada 174, que está em cartaz.

Pessoalmente gostei muito do documentário, pela forma como tratou o assunto, procurou ouvir muitas pessoas, muitos lados diferentes, desde o BOPE até a família e amigos do sequestrador e vítimas, além de profissionais e estudiosos do assunto. Uma cena que me marcou muito foi a dos "meninos invisíveis" como são tratados os meninos de rua, pedindo dinheiro e fazendo malabarismo nos semáforos. Ninguém olha para eles.

Foi isso que Sandro, o sequestrador, sentiu. Com a mídia no local, ele usou e abusou das câmeras e atenção de todos. Era a hora de ser ouvido.

Fica então a sugestão. Para quem não viu, assista.

3 de nov. de 2008

4 de novembro

Amanhã, o povo norte americano elegerá seu novo presidente. E não apenas o povo norte americado, mas todo o mundo espera pelo dia 4. São as eleições mais acompanhadas no Brasil depois de suas próprias. Muitos se interessam mais pela escolha de Obama ou McCain do que a de prefeitos e de seu próprio país.

A mídia não deixa por menos, desde que iniciaram-se as campanhas, a cobertura foi intensa. Na reta final muitos jornais trazem cadernos especiais que tratam apenas dos Estados Unidos, como é o caso do Correio Braziliense. A Folha de São Paulo foi mais longe, lançou hoje um suplemento semanal com reportagens do New York Times. A edição inaugural é dedicada à disputa eleitoral, mas o jornal diz que ela trará futuramente notícias e análises sobre negócios, arte, ciência e tecnologia. Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa, exerga por um lado otimista "Seja qual for o resultado da eleição americana, a crise financeira ensina que o leitor brasileiro deverá estar mais atento ao que acontece nos Estados Unidos daqui para frente. E o New York Times, ainda que num suplemento de seis páginas, é uma boa fonte de informação."

O G1 traz a seguinte manchete: "Analistas prevêem vitória 'esmagadora' de Obama sobre McCain nesta terça" E conta que entre 26 estudiosos da política local, 25 apostam na eleição do democrata.Quase todos acreditam que Obama terá mais de 300 votos dos delegados. No entanto, também adverte que não se deve cantar vitória antes do tempo. Em reportagem na CBN, a mesma expectativa: por mais que Obama lidere as pesquisas, não se pode esquecer o racismo, eles de ser conservadores, muitos declaram que votarão em um cadidato negro, mas não é isso que acontece no final.

Seja como for, a expectativa é grande depois de vários debates, crise financeira, vídeos dos cadidatos se agredindo e até Paris Hilton entrar na jogada. E vamos esperar o resultado das urnas.



Não faço idéia do que é isso, mas me sinto estranhamente atraído

18 de out. de 2008

E até a próxima tragédia...

O sequestro da jovem Eloá de penas 15 anos, surpreendida pelo ex-namorado na última segunda-feira dia 13 de outubro movimentou consideravelmente Santo André no ABC paulista.

O caso foi incansavelmente “vigiado” pela imprensa e analisado pelos mais diversos especialistas. Nessas horas nos perguntamos qual é realmente a contribuição da mídia no caso e se esse reforço é realmente positivo.

Basta remexer nos arquivos que encontraremos inúmeros casos dramáticos de tragédias da vida privada – vide Isabella Nardonni – apresentados em forma de acontecimentos monstros.

O fato é que acima de tudo, a notícia é um produto a ser vendido e o escândalo, a tragédia são produtos caros e lucrativos que a sociedade compra com facilidade. E assim vai seguindo o comércio: eu vendo o que você está disposto a comprar e nesse ‘vale-tudo’ nossa colega Sônia Abrão em seu programa A Tarde é Sua da redeTV entrevistou em tempo real o seqüestrador Lindemberg Fernandes que estava no apartamento da jovem sobre poder de Eloá. Oi? Sônia quem? Sem desprezar o direito de livre expressão, mas transformar o sequestrador em uma celebridade instantânea com direito a aparição ao vivo em programa popular já é demais. Sem contar que a interferência imprópria da mídia nessas situações pode mudar radicalmente os rumos das negociações feitas por meio de encarregados do caso.

O interessante que dessa vez até a hegemônica e intocável Rede Globo se confundiu na hora de repassar informações sobe o caso. Com o fim do dramático episódio nessa sexta dia 17, a população seguia aflita por maiores informações sobre o desfecho da agonia. Até que um primeiro plantão foi anunciado, levando toda a família à sala para sofrer com a morte da jovem que não teria resistido aos disparos feitos por Lindemberg... Porém, em uma segunda chamada, a família volta a ter esperanças com a errata feita por Fátima Bernardes que diz, agora, que a morte de Eloá não foi confirmada e, citando os nomes dos supostos culpados pela divergência da informação, diz que a adolescente está em estado grave.

È, a imprensa está abastecida por algum tempo. Uma série de reconstituições, psicólogos, entrevistas com os envolvidos diretos, tios, amigos e vizinhos terão amplo espaço nas programações da TV, no jornal escrito e nas rádios até o próximo incidente.

Não colocaremos, contudo, a mídia como culpada da torrente de más notícias que recebemos todos os dias nem a apontemos como a grande vilã da história, pois, o acontecimento monstro aludido só é monstro pela repercussão tem.

14 de out. de 2008

blogs, articulistas e código de ética

Para entender a minha indignação:
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008/09/no-pas-dos-petralhas-diogo-mainardi.html

Aproveitando o post do Murilo, eu queria iniciar um debate sobre blogs, articulistas e código de ética. Vale ressaltar que a crítica feita ao professor da UnB foi feita no blog do jornalista que é vinculado ao semanário mais vendido no país.

Não sei se todos concordam (e até melhor se alguém discordar), mas blogueiro não é jornalista (capa da revista Imprensa de Setembro): o contéudo e o formato da matéria produzida são completamente diferentes. Isso sem falar do profissional do jornal X usuário da internet. Então, por que o blog do cara, onde ele pode falar de tudo da forma como bem entende é hotsite da home da revista? Se é conteúdo de blog do Fulaninho, ok. Defendo, inclusive, que continue a escrever do seu jeito ácido que isso estimula nosso exercício argumentativo. Mas a partir do momento que esse é o blog do jornalista Fulaninho que é acessado através da página da revista na internet, as coisas mudam. Ou deveriam mudar, penso eu.

Não sou a favor da livre agressão entre blogueiros, mas não conheceço nenhum web código de ética para blogs. Sugiro o bom senso para quem quiser sair criticando em seus blogs. Para os colunistas, que abusam de seus espaços nos meios impressos para ofender e agredir políticos, outros jornalistas e professores universitários e reproduzem esse discurso em seus blogs, sugiro uma breve leitura do código de ética. Afinal, assim como editores, repórteres, diagramadores, articulistas são jornalistas. O espaço cedido a eles, na web ou no jornal, devem ser utilizados para expressar suas opiniões com responsabilidade. Destaquei alguns artigos ignorados pelo jornalista em questão:


CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS

Capítulo II - Da conduta profissional do jornalista
Art. 6º É dever do jornalista:
VIII - respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão;

Capítulo III - Da responsabilidade profissional do jornalista
Art. 10. A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade.
Art. 12. O jornalista deve:
III - tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar;



13 de out. de 2008

A Inclusão Social na segurança do jornalista

Estudo de caso: Seqüestro dos jornalistas de “O Dia”, em 14/05/2008

A reportagem seria um estouro: depois de duas semanas inseridos no dia-a-dia da favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a repórter, o fotógrafo e o motorista do jornal O Dia tinham material suficiente para delatar a atuação corrupta e ditatorial da milícia controladora daquela favela.

Em apenas sete horas, a reviravolta. Os jornalistas passaram de heróis da notícia a vítimas da Barbárie por eles tanto criticada. Tortura, abuso de autoridade e humilhação foram as armas que os “bandidos que usam farda nas horas vagas”[1] empregaram contra a informação. O Sindicato dos Jornalistas classifica a violência como “um dos mais graves atentados à liberdade de informação”. O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, aconselha a redução da cobertura das favelas cariocas. Tal redução implicaria em conseqüências bastante delicadas: não seria a violência resultado da marginalização proporcionada pela própria mídia, contra as favelas e periferias? E, assim sendo, uma diminuição da cobertura, ou – em outras palavras - imposição de uma autocensura, não daria continuidade ao círculo vicioso marginalização – violência - marginalização?

Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), coloca que “a missão do jornalista não é morrer, mas não se pode recusar a fazer uma cobertura porque o nosso trabalho é uma atividade de risco. Essa tese de que não se pode cobrir certas áreas significa imposição de autocensura” [2].

Como conciliar, então, a proteção efetiva dos jornalistas e uma cobertura completa de todas as esferas da sociedade? Ou, como coloca o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, como encontrar “um meio de a imprensa cumprir seu papel de informar com responsabilidade garantindo a integridade de seus jornalistas”[3]. Antes de tudo, cabe ressaltar quais os dois principais empecilhos para a uma eventual conciliação: (1) a ausência de interesse comercial na periferia (tanto enquanto público-alvo como valor-midiático), que culmina na falta de cobertura local; (2) e as exceções à regra – apelidadas de “infantaria do jornalismo” – que, sem a menor retaguarda, enfrentam a “missão” [4] de trazer à mídia uma abordagem autônoma e livre da periferia, que difira do estado de “terror e medo” pautado pelo “corporativismo da política, da mídia e da milícia”[5]. Tais exceções, apesar de poderem apresentar resultados heróicos, muitas vezes culminam em tragédias como esta e a de Tim Lopes – a qual completou, coincidentemente, seis anos no dia do ato de repúdio ao seqüestro dos jornalistas de O Dia.

Existem ainda, certamente, aqueles profissionais sedentos por prêmios e grandes furos. Nestes, a busca por reconhecimento e audiência supera escrúpulos e prudência, e qualquer discussão acerca de sua segurança necessitaria outra abordagem. Tratemos apenas daqueles comprometidos com a informação e o interesse público – não necessariamente “do público”.

Medidas como a “instalação de comissões de segurança nas redações, formadas por jornalistas que fiscalizem as medidas de proteção à vida e que avaliem os riscos de cada cobertura”, são velhas reivindicações do Sindicato, “o pior caminho para a imprensa será deixar que a tortura de Realengo atinja o objetivo dos torturadores: calar o jornalismo” [6]. “Para combater o crime organizado, faz-se necessária uma redação organizada”[7]. Esse objetivo só pode ser alcançado quando certos paradoxos forem vencidos: em uma sociedade tecnologicamente avançada como a nossa, onde até cachorros podem ser monitorados, o único impedimento restante à segurança dos jornalistas é o descaso. A famosa falta de interesse econômico.

Falta aos donos e diretores dos meios de comunicação a compreensão desse círculo vicioso: é do interesse da população em todos os âmbitos - economia, segurança, cidadania – que se insiram as camadas marginalizadas na agenda da mídia, e – principalmente – que esse agendamento seja positivo e não reforce ainda mais os estereótipos tradicionalmente transmitidos de criminalidade e pobreza. Somente com inclusão social e a realização de uma política de segurança para os jornalistas empenhados com essa causa, tragédias como a que atingiu os jornalistas do periódico O Dia poderão ser evitadas.

[1] Comunique-se, 31/05/2008
[2] O Dia, 06/06/2008
[3] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008
[4]O Dia, 06/06/2008
[5] BENTES, Ivana. “Mídia e Política”, Carta Capital, 17/06/2008
[6] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008
[7] Luiz Martins da Silva, Professor da UnB

12 de out. de 2008

Epifania

Nessa semana, ocorreu um fato que me fez recordar os motivos pelos quais decidi tornar-me jornalista.

Freqüento uma disciplina na UnB que visa, basicamente, analisar a evolução da escrita e da sociedade latino-americana. Uma das ferramentas que utilizamos para expor nossos pontos de vista é um blog em que o professor posta o texto designado e, logo após, o comentamos. Um dos textos que analisamos foi de um renomado colunista de uma das maiores revistas do Brasil (esta é sempre acusada de manipulação e de possuir forte teor de direita… adivinha qual é!). Esse leu nossas críticas e resolveu contra-argumentar em seu próprio blog. Até aí tudo bem, afinal todos temos o direito de resposta (ou, pelo menos, éramos pra ter).

Não contente em discordar e expressar sua opinião livremente sobre o assunto, iniciou um ataque de ofensas ao professor e a nós, alunos. Mas ofensas chulas e pesadas MESMO. Para finalizar, anunciou o nosso endereço eletrônico em seu blog para que seus cegos e intelectualóides discípulos também se manifestassem, gerando um escarcéu de insultos (mais de 100 comentários) que desviavam do plano da crítica original.

Depois de todo o alvoroço entre os meus colegas de sala e meu professor, afinal nunca tínhamos recebido nenhuma crítica direta de uma grande impressa de massa, decidimos manter os comentários, até mesmo os afrontosos, para, no futuro, os analisarmos.

E aí? Fim de conversa? Briga engavetada? Não! Algo martelava na minha cabeça. E de tanto pensar, a fim de descobrir o que me instigava, acabei percebendo algo que surpreendeu: eu estava fazendo jornalismo! Poxa, acabou de cair minha fixa de que estou beeem “longe de casa, há mais de uma semana” e construindo a minha identidade pessoal e profissional. Foi então que me vi na cidade de Brasília, mais precisamente na Universidade de Brasília, mais conhecida como UnB. No mesmo instante, grande parte dos ideais que eu tinha na minha fase rebelde dos treze anos foram voltando à tona. Por que mesmo eu tinha decidido fazer jornalismo? Percebi que de uns tempos pra cá eu vinha caminhando no automático. Acho que, de tanto eu lutar contra a burocracia de entrar numa universidade pública, acabei esquecendo os meus antigos objetivos.

Em casa, lavando minhas meias sujas e lembrando do escândalo, comecei a raciocinar que eu estava entrando num campo de trabalho em que a maior parte das pessoas desejam manipular as outras, e é por isso que existe tanta briga entre autores nos blogs. Tcharam! Nos meios persuasivos são diminutos os discursos dialéticos. Por isso é que o renomado autor da minha briga apelou tanto. Ele não queria perder sua autoridade diante dos seus leitores.

“Mais que porcaria é essa de pessoa que fica influenciando nas decisões alheias para fazer prevalecer suas idéias?”. “Não!”, me auto-corrigi, “não posso julgá-lo de maneira crua, pois talvez só esteja tentando fazer valer os seus princípios”. Mas ninguém, nem eu mesmo, pode impedir-me de achar suas causas uma porcaria. Eu também tenho os meus valores e não vou deixar de lutar para garantir que a satisfação da maioria seja estabelecida.

Ufa! Agora eu recordo dos motivos que me levaram ao jornalismo. E vou fazer valer a pena.

10 de out. de 2008

IX Congresso da ALAIC

O SOS Imprensa envia correspondentes para o IX Congresso da ALAIC (Associação Latinoamericana de Pesquisadores da Comunicação). O primeiro dia do evento iniciou com painel sobre a criação de novos veículos de comunicação na internet. Ramón Alberto Garza apresentou o projeto indigo.com. O portal transmite informações em texto, vídeo e rádio. De tarde, os participantes se dividiram nos grupos de trabalho. Os correspondentes do SOS Imprensa integraram o GT Comunicação Popular, Comunitária e Cidadã. No grupo, houve o relato e análise de experiências com jornais, clube de livros, rádio de mulheres e wireless.
Agora, no início do segundo dia, acontece o painel sobre observatórios de meios de comunicação. Para saber mais, acesse: http://www.observalosmedios.org/

Ju Mendes e LeyLelis

1 de out. de 2008

Semana de extensão “Universidade e Democracia”

Gostaria de convidar todos os leitores do blog e membros do SOS para participarem do cineclube que está acontecendo ao meio dia na sala 600 da FAC. Já exibimos Cidadão Kane e Muito além do Cidadão Kane. Recomendo para todos os estudantes de comunicação! O filme de amanhã é Brad Will ! =)


Depois postaremos o vídeo da galera da oficina de telejornalismo que fizeram uma breve cobertura dessa semana. A propósito, sucesso total! Gostei muito da animação do pessoal e do resultado das externas! Sem mais, termino com uma citação que me provoca até hoje:

“Comunicação é amor” (Florence Dravet minha, professora de ICom)
Será?

Bela

28 de set. de 2008

OOPS!

Olá, leitores!
Como o tema "Erros jornalísticos" sempre desperta curiosidade nas pessoas, o post de hoje é a reprodução de uma das categorias da coletânea Erramos da Folha de São Paulo, uma seleção de notas embaraçosas e sugestões para evitá-las. A categoria em questão é sobre gafes cometidas na tentativa de citar alguma passagem bíblica.

ERRAMOS
Heresias
A Bíblia é um livro que muitos citam, mas poucos conhecem. São constantes os erros por desconhecimento ou mesmo por falha da memória. Na dúvida, cheque na própria Bíblia ou em enciclopédias de religião.
CRISTO ENFORCADO
"Diferentemente do que foi publicado no texto 'Artistas 'periféricos' passam despercebidos', à pág. 5-3 da edição de ontem da Ilustrada, Jesus não foi enforcado, mas crucificado, e a frase 'No princípio era o Verbo' está no Novo, não no Velho Testamento." (7.dez.94)
DILÚVIO
"Em alguns exemplares da edição de 30 de março de Esporte, foi informado incorretamente à pág. 4-3 que o personagem bíblico Jó criou a arca que salvou as espécies animais do dilúvio. Foi Noé quem construiu a arca." (6.abr.95)
QUANTAS PRAGAS?
"A reportagem 'Vento abriu o mar Vermelho a Moisés', publicada à pág. 6-18 do caderno Mais! da edição de 7 de junho, mencionava incorretamente 'sete pragas' enviadas por Deus ao Egito. O correto são dez pragas." (18.jun.92)
BEATIFICAÇÃO, CANONIZAÇÃO
"O fundador da organização católica Opus Dei, José Maria Escrivá de Balaguer (*), não será canonizado no dia 17 de maio, como noticiado em 7 de janeiro (Mundo, pág. 2-3). Ele será beatificado, primeiro passo para uma eventual canonização." (24.jan.92) (*) A grafia correta é Josemaría Escrivá de Balaguer.
ORIGEM DO HOMEM E DA MULHER
"Diferentemente do que foi publicado no artigo 'Divina autocrítica' (Opinião, 2/1, pág. 1-2), a Bíblia relata que o homem foi criado primeiro por Deus, e não a mulher. No mesmo texto, o autor escreve que o homem teria sido criado a partir de uma costela. Segundo a Bíblia, o homem foi criado a partir de uma porção de barro, e a mulher, a partir de uma costela." (7.jan.00)
Então, leitores, errar jornalisticamente ainda é humano?
DICA DE FILME: O preço de uma verdade (Shattered Glass, 2003) conta a história do jornalista Stephen Glass, que inventava grande parte de suas matérias. O caso teve notável repercussão mundial, grande escândalo nos EUA.
Nayara Güércio

23 de set. de 2008

Delícias de Imprensa

Em um mundo em que Xuxa é rainha, Roberto Carlos é rei e Galvão Bueno nasceu com cordas vocais, pode-se esperar de tudo. TUDO pode acontecer, inclusive NADA. E justamente NADA nos é passado em algumas matérias jornalísticas que temos o "deleite" de ver por aí. Citar exemplos? Claro, leitor. Isso me será prazeroso (...Ou será-me prazeroso... ou...ou...).


Delícias de imprensa
  1. De um grande jornal, no domingo: o jornal "procurou ontem" a firma, "por meio do telefone da assessoria que consta do site da empresa, mas não conseguiu ouvir a companhia". Ontem, para um jornal de domingo, significa sábado. E desde quando é possível encontrar algum funcionário de alto nível numa empresa, num sábado?
  2. Também num grande jornal, a respeito do advogado Roberto Bertholdo, acusado de irregularidades: "Bertholdo está detido e não foi localizado".
  3. Outro grande jornal, legenda da foto da Galeria Pagé, em São Paulo, famosa pela venda de produtos, digamos, paraguaios: "A fachada colorida do prédio da Galeria Pagé, no Centro". Segue-se uma foto em preto e branco.
  4. Título de um portal de internet: "Acnur corta metade do orçamento em Darfur devido a insegurança". O leitor que decifrar a charada ganha uma gravação do Roberto Jefferson cantando Nervos de Aço. Traduziu? Não? Então vai lá: Acnur é Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Darfur é a região do Sudão onde milícias árabes massacram cidadãos negros, em nome da "limpeza étnica" – novo nome daquilo que, antigamente, se chamava genocídio.

(Fonte: "O observatório da imprensa" por Carlos Brickmann)

É.... Se no congresso tem pizza, quem disse que na imprensa também não pode ter...delícias?

Que gostoso, não?!!

DICA DE FILME: Bom dia Vietnã (Good Morning Vietnam, 1987). Filme Estrelado por Robin Williams conta a história de um irreverente DJ que, recrutado para comandar programa de rádio das Forças Armadas dos EUA no Vietnã, enfurece oficiais.

Nayara Güércio

Além das águas quentes

Caldas Novas. Onde muitos brasilienses vão passar suas férias ou final de semana. Lugar onde velhinhos encontram sua morada, tranquila e com águas quentes. Lugar onde todo mundo é parente de todo mundo ou pelo menos sabe quem é da família de quem.

Onde o sorveteiro é parente da vereadora, o prefeito apóia um candidato chamado Magal. Magal anuncia festa em puteiro. O puteiro se chama Kelly Empreendimentos. Os policiais conhecem Kelly e afirmam que ser cafetina não é crime. A outra candidata é dona do enorme hotel "Di Roma" e acusa Magal de cheirar cocaína, oferecendo parte de seus bens caso seja provado o contrário. Uma cidade que no período de um mendato teve cinco prefeitos. Mesmo assim as passeatas lotam e cheios de esperança, adultos e crianças abanam banderinhas. Eles ainda correm sem cansar atrás de carros de som que passam quase na velocidade da luz com candidatos em cima. O canditado adptou um funk para a campanha. O funk não saiu da cabeça ao menos das pessoas que estavam comigo. Obejetivo cumprido.


Em uma cidade como esta, dois jornais circulam diariamente. Um deles, o CNN, Caldas Novas Notícias, circula apenas um dia após seu suposto fechamento. Ou seja, o jornal de quinta circula na sexta. Com duas folhas, ele dá informes e notícias rápidas e coloca muitas fotos de festas e anúncios. Claro que Kelly Empreendimentos está presente, não apenas nos anúncios, como nas fotos de suas festas. A dona de uma pousada diz: "Tem como ficar informada por aqui? Ainda bem que existe a Internet".


Em três dias, vimos e ouvimos muita coisa, a maioria da boca do povo, que sabe de tudo que se passa naquele lugar. Muitos tem medo de falar dos ricos, que mapeam a cidade com suas propriedades. Mas sempre sabem de tudo. Bom ser uma cidade pequena, assim eles podem conversar, fofocar, se informar e não depender tanto dos veículos de comunicação. Inacreditável é o fato de existir gente como um senhor que encontramos em uma lanchonete, senhor Richter, que comprou nosso jornal, e ainda por R$1,oo. É a vontade de saber e a esperança de ser aquela uma publicação melhor.


20 de set. de 2008

Imparcialidade?

Olá, pessoal. Inaugurando minha humilde participação no BLOG, reproduzo abaixo um artigo que encontrei por aí, sobre o recente "escândalo" envolvendo a Revista Veja, da editora Abril, e a viúva do educador Paulo Freire:

“Na edição de 20 de agosto, a revista Veja publicou a reportagem ‘O que estão ensinando a ele?’. De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre a qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:

“ Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado".

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:


"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".

Acredito eu que o texto acima abre mais uma vez a discussão importantíssima sobre imparcialidade e ética jornalística. Agora é com vocês.

18 de set. de 2008

Mas... O que seria jornalismo pra você?

Estreiando minha vida útil pelo blog, achei legal pegar algumas frases de jornalistas, estudiosos, interessados, curiosos, 'nada a ve[s]' e afins que tentaram definir o nosso bom e (muito) velho jornalismo.
Segue as frases e seus respectivos comentários devidamente, ou não, elaborados por mim.

Alckmin, José Maria:
"O que importa não é o fato, é a versão." >> ??? by "Nada a ver"


Anônimo:
"Quando um jornalista quer se suicidar, sobe em seu próprio ego e se atira lá de cima (há uma versão com publicitários...)" >> Toma papudo!

Alzugaray, Domingo:
"Alguém: Tenho uma idéia inédita, que nunca ninguém fez em todo o mundo.
Alzugaray: Não interessa. Se ninguém fez, não sou eu quem vai fazer." >> Porque nada se cria...

Beaverbrook, Barão ( magnata inglês, Lord ): "Jornalismo é tudo aquilo que consigo enfiar entre um anúncio e outro."

Bismark, Otto: "Jornalista é um homem que errou de profissão." >> Porque nem todo mundo nasce príncipe.

Bogart, John: "Quando um cachorro morde um homem, isso não interessa, porque acontece com freqüência. Mas se um homem morder um cachorro, o fato torna-se notícia."

Logo...

Douglas, Kirk (em "A montanha dos sete abutres"): "Se não houver notícias, vou lá fora e mordo um cachorro." >> http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL689133-5598,00.html

Vargas, Getúlio: "A Imprensa não ganha eleição. Mas ajuda a perder." >> Roseana Sarney está de acordo.

Veríssimo, L. Fernando: "Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data. >> Qual o problema com os Classificados?

Wainer,Samuel: "Se você fizer um curso (de datilografia) é capaz de deixar o jornal para ganhar mais como datilógrafo."

Wilde, Oscar: "O jornalismo moderno tem uma coisa ao seu favor: ao nos oferecer a a opinião dos deseducados, ele nos mantém em dia com a ignorância da comunidade. " >> Aaaaaaaaai

Kraus, Karl: "O que a sífilis poupou será devastado pela imprensa." >>Medo!

Liebling, A. J.: "As pessoas não param de confundir com notícias o que lêem nos jornais"

***E vcs, galera S.O.S.ana e admiradores, o que têm a dizer sobre o jornalismo?!
Façam desse espaço realmente interativoo!

Nathália da Cruz

14 de set. de 2008

Uma breve reflexão sobre valor-notícia

Antes de mais nada
Segundo o “Manual do Foca”, valor-notícia é “o mais forte fator que torna a notícia interessante”. E o que realmente interessa ao leitor? “Aquilo que aguça a inteligência (...), instiga a curiosidade dele, provoca-lhe emoções e estimula-o a pensar”.

Antes de mais nada II

Há dias eu não abria uma revista ou jornal ou assistia um telejornal (não me orgulho disso!)

Antes de
Postar aqui, na semana passada, eu resolvi me informar! Mas da pior maneira possível e do pior conteúdo possível (divertido, mas supérfluo): lendo Caras em um salão de beleza. Eis que eu leio o que provocou a escritura desse post:
“Famosos comem queijo coalho na praia”

...mais nada!

Isabela Horta, vulga Bela

12 de set. de 2008

A vírgula

A vírgula


A vírgula pode ser uma pausa… ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutandopara que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

http://br.youtube.com/watch?v=JxJrS6augu0&eurl=http://www.pcforum.com.br/cgi/yabb/YaBB.cgi?num=1210793035
Esse é o link do vídeo com o Matheus Natchergaele narrando.

Campanha dos 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa.

11 de set. de 2008

Sucesso certo

Já que estamos em clima de eleições em todo o Brasil, menos na capital federal.
Já que a vitória foi das fichas sujas. Já que todos os babados de cadidatos estão em alta na mídia. Já que boa parte dos jornais reserva muitas das folhas para discorrer sobre campanhas.
Coloco aqui a tirinha que saiu nesse mês na revista Piauí.
Estão todos os segredos para uma boa campanha.
Vejamos, Roriz conseguiu, Garotinho conseguiu e Lula conseguiu.
É fato, só seguir a agenda:






10 de set. de 2008

Nossos heróis distantes

Ele nasceu com má-formação congênita nos dois braços e na perna direita. Até meados de seus dezesseis anos nunca havia cogitado ser um atleta, e hoje é o maior medalista brasileiro nesta edição dos Jogos Paraolímpicos. Falo de Daniel Dias, atleta brasileiro que já conquistou três medalhas de ouro nestes jogos e hoje pela manhã conquistou sua primeira prata.

Daniel começou no esporte incentivado por seu pai, que acreditava ser este o caminho para integrá-lo melhor à sociedade e dar mais ânimo para que ele enfrentasse as dificuldades do dia-a-dia. O nadador começou seus treinamentos na Associação Desportiva para Deficientes (ADD), em São Paulo. Depois passou a representar a Associação para Integração Esportiva do Deficiente Físico (CIEDEF), em Bragança Paulista há uma hora e meia de sua casa que ele percorria todos os dias de ônibus. Seu início de carreira já foi marcado por vitórias importantes. Hoje, aos 20 anos ele realiza seu sonho maior nas Olímpiadas.

Escrevo sobre ele aqui para mostrar minha admiração por alguém que teria todos os motivos para desistir de tudo, mas que resolveu lutar com garra até o fim, e chegar onde chegou. Escrevo também para questionar o porque não é dado tanta atenção a ele, e aos outros atletas, dos Jogos Paraolímpicos na mídia. Tanto na tv (um pouco mais) quanto nos jornais, os atletas são apenas citados, para não passar em branco (essa é a minha impressão). O problema não está somente no escasso espaço utilizado, mas também na forma como se produzem essas notícias, que na maioria das vezes são pequenos informes, sem uma análise maior e mais consistente. Cadê aquela cobertura pomposa que se fez há pouco tempo? Eles não merecem a mesma atenção e espaço na mídia? O Brasil está hoje em sétimo lugar no quadro de medalhas, ou seja, estamos sendo muito melhor representados por eles. Não desmerecendo, é claro, os atletas da primeira competição.
As Paraolimpíadas sempre foram consideradas como um evento secundário dos Jogos. Desde seu início em 1960, nas Olimpíadas de Roma, os Jogos Paraolímpicos ficam em segundo plano. Mas porque não dar mais tempo no jornal? Porque não fazer mais entrevistas? Acredito que eles tenham histórias fantásticas de vida e superação, que talvez servissem para nos dar mais ânimo, mais coragem frente a todos os nossos problemas cotidianos. E não só isso, um maior enfoque sobre esses atletas serviria também para ajudar a acabar com preconceitos que eles e todos os demais deficientes do nosso país sofrem diariamente.

Deixo aqui esta minha inquietação frente a cobertura desses Jogos, que possuem heróis de verdade, que ultrapassam todas as barreiras, iclusive as suas próprias limitações.

Daniel Dias comemora sua primeira medalha de ouro na prova dos 100m livre, categoria S5, com o tempo de 1m11s05, no dia 07. "Vou poder escutar o hino nacional no dia 7 de setembro, mesmo na China.", disse todo orgulhoso.


Texto por Mariana Haubert, uma das "veteranas" do SOS Imprensa, 4º semestre de Jornalismo na UnB.

8 de set. de 2008

Se você ama uns...

Olá, meu nome é Thiago Dutra Vilela. Estou cursando, na Universidade de Brasília, o curso de Jornalismo - o qual já cursei, durante 1 semestre, na Universidade Federal Fluminense. Também faço parte de uma Brigada de Agitação e Propaganda do Rio de Janeiro e, nesse momento, estou começando a participar do SOS Imprensa.
Estou aqui para abrir uma discussão que compreendo como essencial para esse blog e, de maneira geral, para toda a sociedade.  

Se os porcos são ainda mais inteligentes e as vacas ainda mais afetuosas do que os cães (e olhe que geralmente os cães são muito inteligentes e muito afetuosos), e se constatamos que a maioria da população brasileira não comeria um cão, por que comemos esses animais?
Na China, por exemplo, até pouco tempo atrás o cão era um prato comum para a população. Na Índia, matar uma vaca é crime assim como matar uma pessoa (acho que é até mais grave).
Comer carne animal, então, é uma atitude 'normal' ou socialmente construída? Será que precisamos mesmo dela para sobreviver?
Vacas, porcos e cabras são criados em unidades pecuárias onde não há a mínima consideração pelas suas necessidades mais básicas; o transporte é cruel e, içados por uma corrente que os puxa por uma das patas traseiras, estes animais são degolados, enquanto agonizam numa morte horrível.
Frangos e perus mantidos em aviários sobrelotados onde são levados à loucura pelo inferno em que vivem, vêem os seus bicos cortados, sem anestesia. Peixes arrastados repentinamente por redes de pesca sofrem o impacto de uma descompressão tão violenta e imediata, que é comum lhes saltarem os olhos das órbitas. E, não, os peixes não são vegetais.
Além desse aspecto cruel, há ainda mais. O consumo de carne bovina é causador de poluição da água, aquecimento global e consumo de bilhões de toneladas de vegetais - que poderiam alimentar a população que hoje passa fome.
Biologicamente, o ser humano não precisa de carne. Nós já evoluímos a tal ponto que sabemos exatamente quais plantas devemos consumir para preencher nossas necessidades de vitaminas, proteínas e minerais. Não precisamos que o animal faça isso pela gente.

Dito tudo isso, não faz o menor sentido nenhum argumento a favor do consumo de carne. Pois é um argumento usado para sacrificar uma vida. Vamos continuar sendo cúmplices desse crime?

6 de set. de 2008

Jornalistas no Cinema

Olá, leitores.
Meu nome é Nayara Güércio e estou cursando, dentro da faculdade de Comunicação Social, a habilitação "Audiovisual" na Universidade de Brasília. Mas sou também, com muito orgulho, aspirante a jornalista do grupo SOS Imprensa. Para que vocês me conheçam um pouco melhor, em minhas postagens sempre deixarei dicas de filmes relacionados a media, ao jornalismo e/ou a comunicação em geral.
Para abrir com chave de ouro, deixo aqui uma passagem do livro “Os jornalistas, os jornais e outras mídias no cinema” do professor da UFP, Cláudio Cardoso de Paiva.
Na passagem abaixo, o professor aborda diferentes formas de como o jornalista vem sendo retratado no cinema citando alguns exemplos que, na minha opinião, são de grande valor aos leitores curiosos e, acima de tudo, aos leitores que almejam seguir a excitante carreira jornalística.

“Há uma diversidade de filmes em que os
jornalistas aparecem como heróis do liberalismo
e guardiões do sistema republicano,
como em Todos os homens do Presidente
(Alan Pakula, 1976), uma representação bem
cuidada do caso Watergate.
Apologeticamente, surge o profissional
engajado e combatente em Reds (Warren Batty, 1981),
sobre a revolução russa e O ano em que
vivemos em perigo (Peter Weir,
1983), sobre o genocídio na Indonésia em
1965. Mais discreto é Ausência de malícia
(Sidney Pollack, 1981, com Paul Newman,
Sally Field), interessante na maneira
como lida com a questão do respeito e fidelidade
entre o jornalista e a sua fonte. E
a imagem da repórter politicamente correta
se mostra no filme O dossiê Pelicano (Alan
Pakula, 1993, com Julia Roberts). Há um
contingente significativo de filmes densos e
com forte carga dramática, que se distinguem
pelo enfoque, reconhecendo a elevação
moral dos correspondentes de guerra,
como Os gritos do silêncio (Rolland Joffé,
1984), sobre o genocídio no Camboja em
1975, e Salvador, o martírio de um povo
(Oliver Stone, 1986).
Igualmente, há realizações extravagantes
que fazem exposição da figura dos jornalistas
por meio dos recursos sensacionais e espetaculares,
tais como Um dia de cão (Sidney
Lumet, 1975, com Al Pacino e Chris Sarandon),
em que a imprensa televisiva torna
o público cúmplice de um assaltante atrapalhado,
engajado num roubo para pagar a operação
transsexual do seu companheiro.
Em O todo poderoso (de Tom Shadyac, 2003,
com Jim Carrey e Morgan Freeman) um
jornalista desempregado encarna o próprio
Deus e logo, irá manipular a tudo e a todos
usando os poderes sobrenaturais.
Entrevista com vampiro (Neil Jordan, 1994;
adaptação do livro de Anne Rice) mostra um repórter
ansioso por se tornar vampiro, em adquirir
poder e longevidade. E, enfim a película
O povo contra Larry Flint (Milos Forman,
1996, com Woody Harrelson e Courtney
Love) mostra os transtornos na vida e na carreira
do dono de uma revista prestigiada
do mundo pornô.”
E por que não começar já com água na boca?

4 de set. de 2008

Pausa para reflexão

“A televisão regida pelo índice de audiência contribui para exercer sobre o consumidor supostamente livre e esclarecido as pressões do mercado, que não tem nada da expressão democrática de uma opinião coletiva esclarecida, racional, de uma razão pública, como querem fazer os demagogos cínicos.” (BOURDIEU, 1997, p. 96).


Afinal de contas, o índice de audiência é um mecanismo de participação popular na elaboração da programação televisiva, ou apenas corrobora com um discurso participativo vazio?
Trocando em miúdos, até onde a população tem poder sobre a programação das grandes emissoras, se é que o tem? Até que ponto é válido o discurso de que só ficam no ar os programas de interesse e gosto públicos? Será que os programas de grande audiência são, só por conta disso, “democráticos”?
No momento, não há nenhuma verdade sobre o assunto, apenas opiniões particulares. A propósito, qual é a sua opinião?

1 de set. de 2008

SOS Interativo está de volta!

Olá, caros leitores. O blog SOS INTERATIVO está de volta: mais moderno, com novos participantes e outros temas para debate. Ele não perde, porém, a sua função original de promover a formação ética de futuros profissionais da Comunicação Social. Você, sendo ou não participante desse meio, pode participar das novas discussões e idéias que aqui serão apresentadas.

O SOS Imprensa surgiu em 1996, como projeto de extensão da Faculdade de Comunicação da UnB. A partir daí, alunos de diferentes semestres do curso de Comunicação sob a orientação dos professores Luiz Martins da Silva e Fernando Paulino, realizam diversas atividades com a finalidade de levar o debate da crítica da mídia para a sociedade, com a elaboração de programas televisivos quinzenais na TV Cidade Livre (www.tvcomunitariadf.com.br) e a disponibilização de artigos, clippings e notícias relacionadas a questões éticas no site do projeto (www.unb.br/fac/sos).

Segundo o ex-estudante Aerton Guimarães, “participar do SOS Imprensa foi uma experiência de extrema relevância para a formação enquanto jornalista. A relação com os demais colegas, as discussões, debates e eventos promovidos foi muito positiva”. O ex-bolsista do projeto SOS ainda diz que pôde desenvolver um olhar mais crítico sobre a imprensa, e que isso foi de grande importância para sua carreira profissional. Hoje ele é repórter do Correio Braziliense.

Um cidadão que hoje vai a uma banca de jornal procurar novas notícias sobre seu país ou sobre o mundo, pode se sentir aturdido pela grande quantidade de informações que se apresentam diante dele. Que jornal escolher? Em quais das perspectivas apresentadas pelos meios de comunicação o membro da sociedade deve acreditar? Como discernir o fato da especulação? Este blog, além de tantas outras funções, visa a incitar a reflexão sobre as notícias veiculadas pela imprensa.

Hoje, o SOS IMPRENSA funciona com seu site (www.unb.br/fac/sos), com este blog e com participações quinzenais na TV COMUNITÁRIA, sempre nas sextas-feiras.